Grandes clássicos do cinema japonês acontecem em forma de animação. Perfect Blue, filme lançado em 1997 dirigido por Satoshi Kon (também diretor do aclamado Paprika), não foge à regra.

A trama conta a história de Mima Kirigoe, uma ex-pop star que tem intenção de virar atriz. O enredo simples mascara a grandiosidade da obra: o que temos aqui é um estudo sobre como a busca pela perfeição na arte pode levar qualquer um à loucura. Acompanhamos a personagem se perder cada vez mais dentro de si mesma nessa busca.

Whiplash, Cisne Negro e Birdman, três grandes filmes desta década, abordam muito bem como a obsessão pela busca em se tornar o melhor em algo pode afetar negativamente alguém. E há um detalhe envolvendo Cisne Negro e este filme: apesar de negar veementemente, Darren Aronofsky se inspira profundamente em Perfect Blue para construir a sua própria obra-prima em torno da obsessão.

Voltando à estória do filme, como um bom thriller psicológico, somos sempre apresentados aos fatos através do ponto de vista da protagonista. Isso serve tanto como ferramenta de imersão no filme quanto como uma forma de impedir que saibamos o que é real e o que é sonho ou alucinação. Sendo assim, chega-se em um momento que é normal você se questionar se não perdeu alguma parte do filme, ou se você só está perdendo a sanidade junto com a nossa atriz/ex-pop star.

Desde o começo do filme, a relação entre o mundo real e o onírico é sempre muito próxima. Isso não acontece por acaso: toda uma atmosfera surrealista é construída desde as primeiras cenas, sempre repletas de espelhos, com uma sensação de contingência em um mundo real e palpável. Em se tratando de psique, persona e outras questões psicológicas envolvidas, Perfect Blue é primordial para o sucesso de Paprika, talvez a grande obra onírica de Satoshi Kon (que também inspira outro famoso filme de Hollywood, A Origem). 

A obra possui um final digno para tudo que ela apresenta: é violento e inesperado, servindo muito mais como uma janela para dúvidas do que para fechar a trama. Os vinte minutos que precedem esse the end irão indubitavelmente deixar quem estiver assistindo à película com os olhos grudados na tela, tentando entender o que está acontecendo e o que irá acontecer.

Perfect Blue é o típico filme que vai deixá-lo pensativo nas horas ou dias seguintes, após o termino dele. Como já comentei em outros textos, é uma daquelas obras que não acaba quando os créditos sobem. Não é o tipo de filme para todos, mas para aqueles que buscam algo além do mero entretenimento.

Rodrigo Maracajá: radicado em João Pessoa, é um dos autores da novíssima geração, crítico de cinema, estudante de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, desbravador da literatura e apaixonado por música e HQs.

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