O não menos grandioso Parmênides era o anti-Heráclito! É sabido que ele escreveu em resposta direta ao filósofo de Éfeso, afirmando que nada pode surgir do nada, ou seja, “o ente é”. Platão simplesmente o chamava de “Grande Parmênides”. Para o sábio de Eleia, o mundo sensível era feito de aparências e ilusões, cabendo à filosofia sistematizar o caos, introduzir uma ordem nele. É considerado o primeiro filósofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não-contradição, desenvolvidos depois por Aristóteles.

Objetivamente, ele acreditava que não havia fluxo e que, na verdade, tudo estaria estagnado. O ser seria imutável e constante, visto que a mudança é uma ilusão, ou seja, quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas. Segundo Parmênides, podemos olhar o mundo de duas formas: propomos a pergunta “é” ou “não é”. Se “não é”, não podemos pensar naquilo, uma vez que podemos somente pensar no que existe. Isso nos remete a um dos maiores filósofos brasileiros de todos os tempos, Mário Ferreira dos Santos, e os postulados de sua “Filosofia Concreta”. Abrindo um parêntesis, usar as expressões anteriores – “um dos maiores… de todos os tempos” –, no que tange à produção filosófica nacional, já é uma baita incongruência, pois em nossa pátria tupiniquim pouca filosofia se praticou e se disseminou desde o “descobrimento” de nossa Terra Papagalli, portanto, aqui, é tarefa árdua elaborar listas de grandes filósofos, ou dizer que este ou aquele se sobressaiu entre um número volumoso de pensadores que de fato nunca existiu!

Voltando ao filósofo pré-socrático, por todos esses traços profundamente estáticos de seu pensamento, Parmênides tem sido considerado o “pai do idealismo”. Suas ideias foram defendidas ferozmente por Zenão de Eleia, para o qual a noção de movimento e mudança era inviável e contraditória. Muitos outros pensadores, a partir de Platão, também foram influenciados de forma decisiva por ele.

Empédocles de Agrigento e Demócrito de Abdera tentaram conciliar as filosofias de Heráclito e Parmênides. O que se observa, na verdade, é que, ao longo dos séculos, a evolução do pensamento filosófico e reflexivo ocidental parte, no mais das vezes, de constantes tensões e distensões entre sua vertente mais naturalista ou realista e seu viés idealista, entre o sistema aristotélico e o ideário platônico.

Nesse diapasão, Heráclito e Parmênides são gigantes e atingem nossos corações e mentes como marca de gado. São o ponto de partida, desde sempre, de uma boa briga ideológica no mundo ocidental, incluindo-se, neste campo, levando-se em consideração até mesmo os nossos dias, a eterna peleja entre conservadorismo e liberalismo, direita e esquerda, radicais e mais amenos, terreno pantanoso onde vários conceitos se misturam e diversos subgrupos ideológicos surgem, almejando cada um, com carradas de pretensão, ser o dono da verdade “mais absoluta” do universo.

Thiago Andrade Macedo: escritor infiltrado no serviço público federal, advogado não militante, autor do romance policial, psicológico e filosófico O Silêncio das Sombras, também atuou como articulista do jornal A União; filho de pernambucanos nascido nas Minas Gerais, atualmente é um ex-nômade radicado em João Pessoa, Paraíba.

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