Já tentei falar sobre isso o melhor possível, mas algo sempre escapa desta história. Mas vamos lá…

Em 75 eu dava meu expediente na agência 1817 do BB João Pessoa, quando, de repente, vejo que o poeta está de pé, ao meu lado, e que me pergunta se eu já vira meu romance Israel Rêmora. “Não. A Record ainda não me mandou nenhum exemplar. Por que?” “Ei-lo!” E foi assim que tive nas mãos, pela primeira vez, meu primeiro livro publicado. A explicação, do Sérgio: “Comprei em Natal”. 

76: lá vem o Sérgio na calçada da Duque de Caxias, perto do Ponto Cem Réis. “Meus parabéns, Solha!” “Por que, Sérgio?” “A Gravação do Zé Ramalho em cima de seu poema Réquiem para o Circo está uma beleza”. “Quem é Zé Ramalho?” “Um talento novo da Paraíba!” O texto me fora pedido algum tempo antes pelo Stuckert, mal eu chegara do BB, à noite, em casa. Ele queria algo sobre o pesar geral da Paraíba pelo fim do circo cultural do maestro Pedro Santos e do escritor Adalberto Barreto, que havia lá na Ruy Carneiro. “Pra quando você quer?”, perguntei. “Pra hoje!” Eu ri: “Não sou repentista, mas vamos ver o que posso fazer”. Terminei os versos às 23 e pouco. Não apareceu ninguém, deixei a folha de papel debaixo da porta e fui dormir. No dia seguinte ela não estava mais lá. 

Em 1980 o Affonso Romano de Sant´Anna – que fizera uma resenha poderosa sobre meu romance A Verdadeira Estória de Jesus, de 75, lançou Que País é este? Foi o primeiro poema de que de fato gostei em toda a minha vida. Pra entrar em sintonia com a criação do Sérgio precisei assistir à defesa de tese de doutorado – Signo e Imagem em Castro Pinto – , um trabalho notável do João Batista de Brito, de 95. Meu ramo era a prosa, “definitivamente”, até mudar de opinião e escrever Trigal com Corvos, o primeiro de meus poemas longos, de 2004. Aí, um belo dia, o Affonso vem bater na província e o Sérgio me apresentou a ele. Noutro belo dia , o Sérgio me liga dizendo-me que o Affonso estava em Versalhes e queria urgentemente que eu lhe mandasse meu romance A Verdadeira Estória de Jesus, para possível publicação pela Stock, de Paris. Mas a Stock, mal viu o livro, me respondeu “O tema não interessa aos franceses”. 

Em 81, suponho, Sérgio me ligou perguntando-me se eu poderia conseguir as gestas de Carlos Magno para o professor e poeta Gilberto Mendonça Telles, que viera do Rio certo de encontrar a obra na Biblioteca da UFPB, já que o Leandro Gomes de Barros, de Pombal, escrevera o cordel A Batalha de Oliveiros contra o Gigante Ferrabrás, que eu transportaria para o teatro por essa mesma época. Apelei , portanto, pra Pombal, e o amigo Dr. Atêncio Wanderley conseguiu-a com o irmão Hercílio. Resultado: Sérgio me apresentou o Gilberto, o Gilberto me perguntou o que eu andava escrevendo, eu lhe disse que acabara de produzir o Zé Américo foi Princeso no Trono da Monarquia, ele leu meus originais no dia seguinte, levou-os para Ênio Silveira, que tinha a fabulosa editora Civilização Brasileira, o Ênio me mandou uma carta eufórica, me enrolou durante três anos e usei a carta dele como apresentação para a Codecri, que lançou meu “ensaio com estrutura de romance policial e vice-versa” imediatamente. 

Sérgio aniversariou na semana passada. Tenho visto, pela imprensa e pela rede, o quanto é querido por deus e o mundo. Só pode.

W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.

E-mail: waldemarsolha@gmail.com