“Acredito que os filósofos voam como as águias e não como pássaros pretos. É bem verdade que as águias, por serem raras, oferecem pouca chance de serem vistas e muito menos de serem ouvidas, e os pássaros pretos, que voam em bando, param em todos os cantos enchendo o céu de gritos e rumores, tirando o sossego do mundo. “
(Galileu Galilei)
“O maior bem que pode existir em um Estado é ter verdadeiros filósofos.”
(René Descartes)
Para o filósofo Tomás de Aquino “… o conhecimento humano não tem apenas o poder de ser verdadeiro, mas ainda o de reconhecimento da verdade.”[1]
Ir ao encontro da verdade deve ser a missão daquele que se aventura pelos caminhos da Filosofia. A verdade move o intelecto a aperfeiçoar-se, cada vez mais, na sua busca através do conhecimento.
Infelizmente, nos dias de hoje, não é raro vermos a Filosofia reduzida à pseudociência especializada e afastada de seu sentido originário, qual seja, o de buscar a explicação do todo e lançar novas perguntas substanciais à humanidade. E a ciência, por sua vez, se deixou dominar por interesses de pequenos grupos, especialmente, por interesses econômicos, o que implicou em seu assenhoreamento e manipulação por parte de técnicos e especialistas; repercutindo no âmbito da educação básica e superior de nosso país, por exemplo, comprometido, apenas e no máximo, com um raciocínio lógico-matemático quantitativo. Porém, a Filosofia e o filósofo não se devem deixar abater e recuar:
– o verdadeiro filósofo é aquele que, de fato, é amigo da sabedoria, e a sabedoria é, também, a verdade, a caridade, a justiça, a paz, a vida e a libertação;
– o verdadeiro filósofo é aquele, cuja diretriz de seus estudos consiste, no dizer do filósofo Agostinho, “…a alegria de procurar a verdade, de descobri-la e de comunicá-la”.[2]
A Filosofia, portanto, exige de todos aqueles que nela se aventuram, um raciocínio com rigor, para agir com retidão e para melhor servir à sociedade humana[3]; e digo servir, com o seu conhecimento, esclarecendo, denunciando e apontando soluções aos problemas latentes do seu tempo, condenando tudo “…quanto se opõe à vida (…); tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende [o homem na sua dignidade], como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão (…); e também as condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis.”[4] A Filosofia dirige-se à sabedoria e, sabedoria, implica em existência; portanto, algo que vá contra a existência em seu pleno sentido e mistério, por mais que alguns queiram chamar de progresso, retomado em aulas com o singelo nome de competências, técnicas e habilidades, não se presta à missão filosófico-educativa, que promove a cultura do homem e o bem autêntico dos indivíduos e da sociedade em seu conjunto. Como nos diz Fernando Savater, ao lembrar de Sócrates, em seu singelo livro Uma história descomplicada da Filosofia,
“Mas me falta saber o mais importante de tudo, a única coisa imprescindível: como se deve viver. De que me serve saber como fazer isso ou aquilo se ignoro o que devo fazer com minha própria vida? Seria como estar muito orgulhoso do quanto sei andar e do tanto que posso correr… mas sem ter a menor ideia de onde venho nem para onde convém prosseguir.” [5]
Nos dias de hoje, dias de suicídios de adolescentes frequentadores de escolas e universidades competentíssimas, dias de Globalização das desigualdades e da miséria social, reflexo de uma contemporaneidade conturbada pela perda do sentido e do significado social, econômico e ecológico, prestemos atenção no que a Filosofia tem a dizer sobre a Ética e seus valores, os quais devem ter como princípio o Bem e a Justiça, para o engajamento crítico, segundo as palavras do Papa Francisco, nas “…questões que hoje nos causam inquietação e já não se podem esconder debaixo do tapete. [Onde] o objetivo não é recolher informações ou satisfazer a nossa curiosidade, mas tomar dolorosa consciência, ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim, reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar.”[6]
Enfim, lutemos pela ressurreição da FILOSOFIA no Brasil, neste momento de ataques à sua disseminação e aprofundamento no ensino básico, principalmente o público, e que sejamos íntegros e coerentes em nossas condutas, para que ajudemos a formar cidadãos comprometidos com a verdade, com os valores éticos, prestando, assim, um serviço a nós mesmos, às pessoas e à sociedade.[7]
[1] SANTO TOMÁS DE AQUINO. Verdade e conhecimento. pp.30,31. São Paulo, Martins Fontes, 1999.
[2] SANTO AGOSTINHO. Confissões. Cap. X, XXXIII, 33. São Paulo, Abril Cultural, 1997. (col. PENSADORES)
[3] JOÃO PAULO II. CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DO SUMO PONTÍFICE Sobre as Universidades Católicas. São Paulo, Edições Paulinas, 1990. p. 4
[4] JOÃO PAULO II .CARTA ENCÍCLICA VERITATIS SPLENDOR.. São Paulo, Edições LOYOLA, 1993.
[5] SAVATER, FERNANDO. Uma história descomplicada da filosofia – São Paulo: Planeta do Brasil, 2015. p. 26
[6] FRANCISCO. CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI. Disponível em http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
[7] JOÃO PAULO II. CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DO SUMO PONTÍFICE Sobre as Universidades Católicas. São Paulo, Edições Paulinas, 1990. p. 38.
Diego Almeida Monsalvo: professor, mestre em educação, escritor e poeta radicado em Santos, publicou, dentre outras obras, ‘Dissecando o líder’ e ‘Filosofia Urgente’ além de artigos de divulgação da Filosofia e Educação.
E-mail: prof.monsalvo@gmail.com