O Houaiss a define como uma coluna diária contendo notícias e/ ou comentários críticos em torno de atividades culturais, políticas, ou sobre economia, ciência, desportos, etc. É exatamente o que Gonzaga Rodrigues, William Costa e Martinho Moreira Franco, Roberto Cavalcanti, Vitória Lima e Germano Romero têm feito por todos estes anos, conhecendo seu povo, nossos artistas, mais os meandros dos poderes municipal, estadual e até internacional. Foi o que o Luiz Augusto Crispim fez no Correio da Paraíba e o que Bráulio Tavares praticava no JPb, cada um à sua maneira. Quando o extinto O Norte me contatou pra substituir o Gonzaga em férias pela segunda vez, senti que, novamente, eu teria de abandonar outro tipo de crônica que praticava, a de longo curso, aquela que levara Gabriel García Márquez à “Crónica de una Muerte Anunciada” e Antonioni à “Crònaca di un Amore”.
Falar sobre algo, emitindo opinião, que pode até ser polêmica – continua Houaiss – isso é uma crônica. Mas não mais sou de polêmica, desde que vi, décadas atrás, no último século e milênio, em todos os telejornais, enorme estátua do Vladimir Ilitch sendo arrancada do pedestal por um guindante de Gdansk, numa ação aplaudida pelos operários poloneses, doidos pra rezar à vontade pra virgem negra de Chestoshowa, vi o Che muerto cheio de balas, pela falta de apoio das massas campesinas bolivianas que pretendia libertar, e vi o muro de Berlim desabar, mostrando todo o atraso e miséria que havia do outro lado, pelo que acabei descreditando de meu discernimento, ou muito pelo contrário.
Depois, tive vontade de fazer uma greve de fome, numa das esquinas da Praça João Pessoa, em protesto pela guerra do Iraque, tive vontade de discursar lá, em cima de uma caixa de sabão, como Bertrand Russell fizera com noventa e tantos anos contra a do Vietnã, mas com que prestígio? “O doido, aí, tá querendo aparecer”. Faltou-me, é claro, aquela paixão extraordinária e contagiante, embora absurda, que se viu na Joana D´Arc de Luc Besson, interpretada com garra pela Milla Jovovich.
Bem, e então?
Conta-se que o Imperador da China, precisando de um sino, convocou o melhor sineiro disponível ao longo do Rio Amarelo, e eis que, seis meses depois, nada do bocal com badalo. “Ah, Majestade, fiz vários, mas nenhum à altura da encomenda”. E o outro, com paciência de Confúcio: “Homem, preciso de um sino, simplesmente de um sino”. E o sino foi feito. Como esta crônica – que todo mundo um dia faz – sobre falta de assunto.
W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.
E-mail: waldemarsolha@gmail.com