A gente sempre se sente o centro de tudo: “minha família, minha casa, minha rua, minha roupa, meu computador, minha cidade, meu país, minha época”.
Na véspera de minha volta de Madri, 1994, onde passara quinze dias, vivi um momento estranho, na Gran Vía – Epitácio Pessoa de lá. Parado na calçada, em meio a um movimento intenso de pedestres, muitos vindo quase em minha direção, de modo que eu podia vê-los com todos os seus detalhes, me toquei no fato óbvio de que toda aquela gente vivera ali até aquele dia sem minha presença e que iria continuar sem mim, depois que me fosse.
Aquela não era a minha gente, a minha rua, a minha cidade, o meu país. Senti-me como uma alma, espírito de alguém que não é deste mundo e pude, assim, ter um trailer de como vai ser depois que eu me for.
W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.
E-mail: waldemarsolha@gmail.com