FUNDAMENTAL É ESCREVER

Por que não faço sessões de autógrafos pra vender meus livros?

Primeiro: sou péssimo vendedor, principalmente de um trabalho meu. Sei que meu texto exige muito do leitor – coisa que não agrada à maioria das pessoas, daí que não sei ligar para os que conheço ou desconheço, insistindo pra que saiam de casa, à noite, a fim de comprar algo que não vai lhes dar prazer algum. Falo por experiência. No lançamento de Trigal com Corvos – prêmio nacional e tudo mais – vendi oito exemplares. Do meu romance Shake-Up, três.

Além disso há o fato de que, agora em novembro, completo 30 anos de aposentado e… ter durado tanto, dando tanta despesa à Previdência, me inibe de vender meu trabalho literário – que na verdade interessa quase que exclusivamente a mim, pois preciso fazer minhas investigações utilizando o que me parece o melhor meio: a beleza e a perspicácia da palavra. Daí que – já que as grandes editoras abandonaram o autor brasileiro, principalmente os de minha linha – sinto-me na obrigação de publicar meus trabalhos e de repartir minhas safras desse modo. E isso não fica apenas na literatura: doei o painel Homenagem a Shakespeare à UFPB, o quadro A Ceia para o Sindicato dos Bancários, o Jardim das Delícias foi pra ajudar o Ednaldo do Egypto na construção de seu teatro, em Manaíra – e me sinto, sempre, devedor.

De meu último livro – Vida Aberta – recebi retorno bastante expressivo, inclusive antes de entregá-lo à Penalux, como faço com todos os meus romances e poemas, antes de dá-los por terminados. Mas houve, também – como é natural, no meu caso – ausências de comentários, além de frases apenas corteses e cumprimentos privados combinados com silêncio público, reações que confirmam que não devo vender o que escrevo. Conclusão: tudo não passou de um lote de menos de 300 exemplares, a onda se foi e – como venho fazendo desde os anos 70, estou produzindo novo livro pra ser também esquecido, mas que me é e será fundamental.