Já se passavam das nove, e das onze também. A janela queimava. Suor e pesar. Nascente. Finalmente encontrara o conforto: depois de seis horas deitado, esquecer que estivera acordado até às cinco era como estar bêbado outra vez. Conforto. Naquele ponto já não sabia se precisava realmente dormir, ou abrir mais uma cerveja. Já eram onze, já era terça-feira. Já era.

A rádio tocava longe, não era possível compreender o que era dito. Algo sobre mais uma bomba que foi jogada na Síria. Afastou-se para o lado esquerdo da cama, não suportava mais o sol batendo em seus pés. Pensou na última mulher com quem dormiu. Ela foi embora às seis. Acreditara ser por conta desse sol perturbador, mas sabia, agora, que era por causa do seu bafo e do seu ronco. Insuportável.

Não queria abrir os olhos. Virou-se. Desta vez na tentativa de conseguir alcançar o cigarro, que deixou ao lado da cama. Essa era uma das poucas certezas que tinha na vida. Além da luz, que vencerá na sexta. Derrubou o abajur ao lado da sua cama. Comprou para leituras noturnas, mas só servia para achar roupas que sempre se perdiam durante o sexo. Ficou feliz e esperou que a lâmpada estivesse estilhaçada. Ninguém precisa de luz, quando se tem um sol infernal queimando seu quarto.

Preciso de um café. Era, nesse momento, o único pensamento que passava por sua cabeça. Preciso de uma cerveja. Era, nesse momento, o único pensamento que passava por sua cabeça. Preciso! Mas agora já se esqueceu do que realmente precisava. Um amor, para acordá-lo, dar-lhe bom dia, um beijo e sair. Não achava que merecia tamanho apreço. Merecia um cigarro.

O calor que antes incomodava agora o preenchia. Permaneceu imóvel. Era inútil, naquele ponto, fazer qualquer movimento que apresentasse esperança. Lembrou que tinha que fazer uma ligação, para aquele maldito editor, que ainda não lhe pagou pelo último texto. Bateu a cinza. Queimou-se.

Estava no segundo giro do sétimo círculo. Seu próprio inferno. O telefone tocou. Escutou, como quem escuta o rio, e sente cheiro de futuro. Desprendeu-se. Correu como quem alcança nos braços do amor um amanhã.

– Bom dia! Quem fala é o Roger?

E ali mesmo morreu. Como morrera ontem e na semana passada. Como morrera, mês passado também. Estava novamente encarcerado no presente. Voltou para cama. Já eram onze, já era terça-feira, já era!

João Gabriel Gomes: autor baiano da novíssima geração, amante da poesia, da filosofia, da arte e de tudo que se esconde no mistério humano, é também estudante de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais.

E-mail: joao_rgomes@hotmail.com