Continuando a análise do pensamento kantiano, observa-se, quanto às origens do conhecimento, que várias são as posições adotadas na filosofia. Para o empirismo, a origem fundamental do conhecimento está na experiência sensível (é a seara de Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke, George Berkeley e David Hume). O ponto de partida é o mundo exterior (seria uma espécie de realismo ou materialismo).
Em contrapartida, o racionalismo prega que, além do conhecimento pela experiência, fonte permanente de erros e confusão, há principalmente o conhecimento pela razão (posição de Descartes, que defende a tese das ideias inatas – inatismo -, isto é, ideias que já nascem com a pessoa). O ponto de partida é o sujeito pensante (seria uma espécie de idealismo). Há defensores do inatismo ao longo da História: na Antiguidade, Platão; na Idade Média, Santo Agostinho.
Eis aí que surge Kant e dá o seu “pulo do gato”: no “apriorismo kantiano”, a experiência forneceria a matéria do conhecimento, ao passo que a razão organizaria essa matéria de acordo com suas formas próprias, estruturas existentes “a priori” no pensamento (daí o nome “apriorismo”). Seria um meio-termo entre a experiência e a razão.
A base da filosofia moral kantiana encontra-se em três obras: “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, “Crítica da Razão Prática” e “Crítica do Julgamento”. Nesta seara, surge uma de suas maiores criações: o imperativo categórico, espécie de obrigação moral única e geral, marcada por uma ética robustamente racionalista. Seria uma obrigação incondicional, que temos independentemente da nossa vontade ou desejos, expressa na fabulosa sentença: “Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal.”
Kant soube, como nenhum outro filósofo, construir um vasto sistema teórico, por muitos denominado de “idealismo transcendental”, no qual suas teses se equilibram pela própria força da linguagem pesada e excessivamente técnica, o que não deixa de ser também um jogo de retórica. Sua dicção truncada, ao abordar o real, dispara paralelepípedos verbais que vão construindo uma estrada teórica rígida e bem assentada.
Deixando um pouco de lado o seu jargão verborrágico, às vezes me pergunto se Kant, guardadas as devidas proporções, não era uma espécie de membro do – hoje tão em voga e abominável – “centrão”, cujo espelho, em tempos de outrora, seria o político mineiro. Sim, aquele ser escorregadio e desconfiado, que, no mais das vezes, buscava posições conciliatórias e ponderadas, meio lá, meio cá, quase sempre em cima do muro, sem radicalismos ou rompantes de exagero, de modo matreiro, como na melhor forma de se fazer política na terra do pão de queijo.
Thiago Andrade Macedo: escritor infiltrado no serviço público federal, advogado não militante, autor do romance policial, psicológico e filosófico O Silêncio das Sombras, também atuou como articulista do jornal A União; filho de pernambucanos nascido nas Minas Gerais, atualmente é um ex-nômade radicado em João Pessoa, Paraíba.
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