A Chegada (2016) é sem dúvida um dos melhores filmes dos últimos anos. Dirigido pelo canadense Dennis Villeneuve, o filme é uma adaptação do livro “História da sua vida e outros contos”, escrito por Ted Chiang, e conta a história de Louise Banks, uma linguista chamada para decifrar o dialeto de uma raça alienígena que pousa suas naves na Terra.

O filme tem como foco principal a comunicação, mas também aborda diversas outras questões humanas, desde a resposta comum – violência – do ser humano ao se deparar com o desconhecido, até questões mais pessoais e filosóficas, como a perda de alguém querido e o valor da felicidade. Devo avisar que essa resenha contém spoilers: a leitura a partir deste ponto é por sua conta e risco.

Como disse anteriormente, o foco principal do filme é a comunicação. E a obra utiliza da hipótese de Sapir-Whorf. Essa teoria estabelece que a língua que você fala molda a forma de pensar e de perceber o mundo, ou seja, uma relação direta entre cognição e língua. Ao aprender a língua alienígena, Louise se torna capaz de ver o futuro. O tempo se torna não-linear.

O objetivo dos aliens ao pousarem na Terra era passar esse conhecimento, transmitir a língua deles para os humanos. Isso é o que a personagem brilhantemente interpretada pela Amy Adams tenta descobrir. Em busca disso, ela vai ensinando inglês para os extraterrestres e, em determinado momento, eles dizem que estão no planeta para entregar “a arma” para os humanos.

Mesmo que isso seja tratado como uma limitação de vocabulário, é interessante enxergar a língua como uma arma. Especialmente no tempo em que vivemos, em que dialogar nunca foi tão difícil. E que cada vez mais as palavras são utilizadas como instrumento de ofensa ao pensamento contrário. É como dizia o poeta, “sons, palavras são navalhas e eu não posso cantar como convém sem querer ferir ninguém”.

Todavia, penso que a real beleza de “A Chegada” se encontra na forma como a felicidade e a perda são abordadas. Durante todo o filme vemos o que parecem ser flashbacks de Louise com sua filha, pois a vemos nascer, crescer e morrer acometida por alguma doença. Porém, no final, descobrimos que aquilo ainda vai, ou pode acontecer.

Ao ter uma nova percepção do tempo, Louise é capaz de ver seu futuro e descobre que, caso tenha uma filha com Ian Donnelly – personagem coadjuvante interpretado por Jeremy Renner –, ela irá morrer. Ao escolher ficar com ele, seu destino é selado e um dia inevitavelmente ela sofrerá a perda de sua filha.

Mas ela escolhe ignorar esses momentos ruins que virão e aproveitar os momentos felizes que lhe serão proporcionados. O longa mostra algo que, apesar de muito claro, nós parecemos ignorar. Tudo na vida é fase, seja boa ou ruim. E muitas vezes temos que passar por uma fase ruim para alcançar o que desejamos e, consequentemente, a felicidade.

“A Chegada” dá uma lição madura sobre passagem de tempo. Eu não penso que seja um filme para se ver ao menos uma vez na vida, mas sim toda vez que perdemos o foco do que é realmente importante. É um filme que ajuda a refletir sobre o presente e pensar no futuro. É uma daquelas obras que se altera de acordo com quem você é no momento em que a vê. E esse tipo de filme sempre vale a pena ser assistido.

Rodrigo Maracajá: radicado em João Pessoa, é um dos autores da novíssima geração, crítico de cinema, estudante de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, desbravador da literatura e apaixonado por música e HQs.

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