O filósofo marxista francês Louis Althusser, celebrado como um dos maiores intelectuais da geração maio 68, era obcecado por buracos de fechadura, considerava os seios quase descobertos da mãe uma obscenidade, descobriu a masturbação aos 28 anos, teve sua primeira relação sexual aos 30 (com sua esposa Hélène – 8 anos mais velha), depois do que caiu em depressão profunda e chegou a ser internado para tratamento com eletrochoque.
Começa sua autobiografia contando como a matou:
– Estou em pé ao lado da cama. À minha frente, ela, deitada de costas. Ajoelhado, massageio a parte frontal de seu pescoço. Apoio meus polegares na região mais dura acima das orelhas. Massageio em “V”. O rosto de Hélène está imóvel, sereno. Seus olhos abertos fixam o teto. De repente sou tomado de terror: seus olhos estão interminavelmente fixos e uma breve ponta de língua repousa entre seu dentes. Visto-me e grito:
-Estrangulei Hélène!!!
___________________________________________________________
(este é UM DOS 126 CONTOS QUE FAZEM PARTE D“A GIGANTESCA MORGUE”, parte DE “HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA”, ED. BERTRAND BRASIL, 2005, FINALISTA DO JABUTI DO ANO SEGUINTE, PRÊMIO DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES, RIO. Essas 126 histórias são, por sua vez, parte das mil que o autor publicara numa coluna semanal do jornal O NORTE, chamada CONTOS REAIS, todas resumos enxugados ao máximo de reportagens da imprensa da época. Alguns deles são libretos da CANTATA BRUTA, para coro, solistas, narradores e orquestra, de 6 compositores do grupo COMPOMUS, do Departamento de Música da UFPB – Eli-Eri Moura, Wilson Guerreiro, Marcílio Onofre, Didier Guigue, Valério Fiel da Costa e José Orlando Alves, apresentados no Espaço Cultural José Lins do Rego, João Pessoa, em 2011)
W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.
E-mail: waldemarsolha@gmail.com