“O comércio é a escola da trapaça”. A máxima é de Vauvenargues e, como todo axioma, nela cabem exceção e relativismo mundanos. Porém, nada que a invalide enquanto reflexão capaz de nos ajudar a pôr os pés em terreno mais seguro, nesta tortuosa caminhada que é a vida. Portanto, na hora de fazer negócios, todo cuidado é pouco. Esmola grande o cego desconfia. Eis um postulado popular sem prazo de validade no tempo e no espaço.

A ganância, no entanto, é craque em burlar a prudência. E o que se vê todos os dias em nosso país – pois não conheço outro -, são malandros passando a perna em trouxas que, no afã de ganhar dinheiro fácil, caem em manjadíssimos contos do vigário. Carro roubado e imóvel sem escritura são alguns dos produtos colocados à venda, a preço de banana, no mercado da safadeza, para atrair gente disposta a infringir a lei, desde que obtenha vantagens pecuniárias.

Existem pessoas honestas e inocentes. Mas a maioria sabe o que está fazendo, e só grita “socorro, Polícia!” quando bota as mãos nos bolsos e sente que lhe levaram até as moedas. Dia destes, na sala de espera de um consultório médico, um rapaz que acompanhava à mãe queixava-se da perda de dez mil reais. Alguém lhe oferecera um carro de luxo por esse valor, garantindo nota dez na vistoria do Detran, contudo, na hora da onça beber água, o bicho pegou.

Tem coisa mais manjada que a tal da pirâmide? Mas aconteceu, recentemente, em nossa outrora pacata cidade, de muitos perderem suas pequenas fortunas, comprando passagens para um Egito não exótico, e sim ilusório. Meu amigo! Como diria Zé Ramalho, se fosse fácil, todo mundo era (rico). Ganhar dinheiro fácil, honestamente, é coisa difícil neste mundo. Vauvenargues investigou um meio de fazer fortuna sem mérito, e não encontrou nenhum.

Faz tempo, encontrei um amigo no Parque Sólon de Lucena. Ao me ver, sorriu, me abraçou, e tascou de chofre: – Meu camarada, qual é o sonho que você quer realizar na vida? – Fiquei sem jeito. Definir “uma” entre tantas aspirações não é tarefa fácil. Apelei para um lugar-comum, e respondi que uma casa no campo, onde se possa plantar amigos, discos e livros, igualzinha àquela da belíssima canção de Zé Rodrix, me bastaria como “realização”, no plano material.

O meu amigo alargou o sorriso, caprichou no segundo abraço, e, olhando bem dentro dos meus olhos, ressaltou: – Pois você acaba de encontrar a trilha que o levará à casa dos seus sonhos! Você só vai precisar trabalhar por um período de dois anos, mesmo assim, sem precisar dar expedientes em fábrica, loja, repartição ou escritório. A partir do terceiro ano, aí sim, seus rendimentos serão suficientes para você concretizar tudo o que quiser na vida.

Acertamos uma reunião lá em casa, ocasião em que ele me mostraria o caminho das pedras. Chegou às oito da noite, com apostilas e fitas de videocassete, nos quais estava escrito “Seja um Esmeralda”. Em trinta minutos de exposição, eu já estava devendo até os cabelos do sovaco. Interrompi o nosso Bill Gates, levei-o à porta e, antes de batê-la, disse que só voltasse quando tivesse um negócio onde a gente começasse ganhando dinheiro. Estou esperando até hoje.

William Costa: jornalista de carreira e escritor paraibano, editor do suplemento cultural Correio das Artes, cronista do jornal A União, tem vasta experiência em veículos de imprensa e é autor do livro de crônicas e contos Para tocar tuas mãos - Chronesis.

E-mail: wpcosta.2007@gmail.com