Considero “Os Sertões” e o “Grande Sertão:Veredas” os maiores livros das Américas. Se a classificação não for literária, o terceiro é esse enorme volume de fotos de quem já nos havia dado outros de igual porte … bíblico – “Trabalhadores” e… “Êxodos”.

Se Godfrey Reggio conseguiu o portentoso documentário “Koyaanisqatsi” – sobre nossa vasta contemporaneidade – com seis anos de filmagens pelo mundo e Ron Fricke na direção de fotografia, Sebastião Salgado viajou durante oito pela Terra onde ela ainda permanece intacta (surpreendentes 46% do total): a pé, em navios e canoas, em grandes e pequenos aviões e até em balões – trazendo-nos um resultado que supera o de Ansel Adams (1902-1984) com suas estupendas imagens das vastidões estadunidenses.

Lá estão, no “Genesis”, as Angel Falls da Venezuela, com 979 metros de altura; o gigantesco Bryce Canyon – do Utah – com a fantástica estrutura geológica que me remeteu ao… quadro de 1946 do Max Ernst que vi no MASP, com o mesmo … surrealista Bryce Canyon; a maior concentração mundial de pinguins – 750 mil casais – numa das vulcânicas ilhas Sandwich do Sul; a geleira Perito Moreno, com 30 km de comprimento, 700 metros de profundidade; e o Parque Nacional de Anavilhanas – 350 ilhas no Rio Negro – o maior arquipélago interior do mundo.

Belo título – “Gênesis”-, num momento um tanto apocalíptico em que a degradação que estamos vivendo na Natureza nos assusta. Sendo o maior fotógrafo do planeta da atualidade, Sebastião Salgado fascina com o esmerado preto-e-branco de gênios como Cartier-Bresson, Brassaï, Feininger, Kertész, Avedon… e Ansel Adams, impressionando-nos com a beleza intensa das águas amazônicas espelhando gigantescos céus e com a beleza edênica dos índios de povoações Zo´é Towari Ypy até então jamais vistas, com o elegantíssimo voo da garça-moura do Pantanal e com vistas aéreas dos nenets levando seus extensíssimos rebanhos de renas sobre 50 km de gelo, na Sibéria, ou com aglomerados de elefantes que lembram monumentos monocromáticos, icebergs que têm algo de montanhas cenográficas com pontes e castelos, animais uniformizados pelas listras ou plumagens, baleias que mergulham no oceano com a naturalidade com que mergulhamos no sono.

Gênio.

W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.

E-mail: waldemarsolha@gmail.com