No começo, tudo era superstição, lendas e religião. Assim era o mundo antes dos gregos do século VI a.C. Como o milagre se deu permanece até hoje um grande mistério. Chineses e babilônios, além dos antigos egípcios, eram mais evoluídos naquela época. Suas civilizações eram mais vastas e pujantes do que a sociedade grega.

Sua tecnologia era superior. Seu conhecimento de matemática era mais profundo e abrangente. Os gregos estavam muito aquém dessas civilizações: não sabiam prever eclipses, não tinham a incrível engenhosidade para construir pirâmides, esses colossais monumentos que até hoje intrigam boa parte dos historiadores e arqueólogos.

O milagre do uso da razão e da observação, livre das especulações metafísicas que até então rondavam outras culturas e civilizações, é um dos grandes enigmas da humanidade. A racionalidade conquistou seu espaço de forma permanente com os fabulosos gregos antigos. Surgia a filosofia, a forma mais perturbadora do pensamento humano.

Houve fenômenos outros que atestam que a sociedade grega era de fato ímpar: como pôde, no espaço de uma única geração, a tragédia grega evoluir de uma ritualística religiosa primitiva e rígida para uma sofisticada dramaturgia, formalmente pouco alterada até hoje? Como pôde a filosofia ter início por volta de meados do século IV a.C. e, no final do século seguinte, já produzir um gênio chamado Platão (para muitos o seu expoente máximo)?

A busca incessante do conhecimento como ferramenta para tentar compreender toda a sorte de questionamentos realizados pelo homem teve, a meu ver, o mesmo impacto que o monólito presente no magistral 2001, A Space Odissey (refiro-me ao filme de Kubrick – poesia em imagens -, e não ao livro de Arthur C. Clarke).

O enigma persiste. O espantoso florescimento da cultura grega, reconhecido por muitos como o marco fundamental da cultura ocidental, é algo que mantém, até nossos dias, uma aura de mistério, encantamento, perplexidade.

Thiago Andrade Macedo: escritor infiltrado no serviço público federal, advogado não militante, autor do romance policial, psicológico e filosófico O Silêncio das Sombras, também atuou como articulista do jornal A União; filho de pernambucanos nascido nas Minas Gerais, atualmente é um ex-nômade radicado em João Pessoa, Paraíba.

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