A era moderna da filosofia começou com Descartes, o homem que duvidou de tudo e reduziu nosso conhecimento a uma certeza principal: Cogito ergo sum (Penso, logo existo). Lamentavelmente, seu racionalismo partiu em seguida para a reconstrução do nosso conhecimento, como se nada tivesse acontecido.
Depois disso, os empiristas ingleses (Locke, Berkeley e Hume) envolveram-se em processo um tanto destrutivo e arriscado, afirmando que o conhecimento humano só podia ser baseado na experiência. Eram ideias realmente modernas para a época, as quais proporcionaram grandes avanços na ciência e na metodologia científica a longo prazo, mas provocaram um enorme estrago no pensamento ocidental.
Os mais radicais afirmam que, no momento em que Hume concluiu esse processo de apreensão da realidade, o conhecimento humano estava reduzido a ruínas. Foi esse suposto absurdo que, de forma quase milagrosa, despertou Kant de seu “sono dogmático”. Levando em consideração o empirismo, mas recusando-se a ser por ele intimidado, Kant construiu talvez o maior de todos os sistemas filosóficos.
Passando do sublime ao ridículo, Hegel criou então seu próprio sistema exagerado. Foi por muito tempo endeusado. Muita gente depois dele se apossou de seu sistema dialético como verdade absoluta: Marx não nos deixa mentir. Schopenhauer, contemporâneo de Hegel, iria tratar essa monstruosidade conceitual com o merecido desprezo, mantendo uma perspectiva reconhecidamente kantiana no que tange à epistemologia (a teoria do conhecimento, ou, vulgarmente, a nossa maneira de ver o mundo).
Kant, no entanto, também formulou um sistema moral de grande beleza e distinção. Para Kant, o mundo tinha fundamento moral – não é fácil aceitar essa concepção em nossa realidade contemporânea, após um século XX varrido por duas grandes guerras e muita carnificina em diversos outros conflitos, em todos os cantos do globo. Schopenhauer, é certo, percebeu tudo de forma bem diferente. Seu pessimismo não admitia muitas saídas para nossos dilemas éticos e morais.
A bem da verdade, em que pesem tantas idiossincrasias e esforços intelectuais, o mundo ainda não se encaixou em nenhum sistema de apreensão completa da realidade. Bem que podíamos voltar aos mestres gregos clássicos…
Thiago Andrade Macedo: escritor infiltrado no serviço público federal, advogado não militante, autor do romance policial, psicológico e filosófico O Silêncio das Sombras, também atuou como articulista do jornal A União; filho de pernambucanos nascido nas Minas Gerais, atualmente é um ex-nômade radicado em João Pessoa, Paraíba.
E-mail: thiagojpam@yahoo.com.br