“Hamlet”, ato 2, cena 2. O príncipe, fazendo-se de doido, conversa com Polônius – conselheiro do rei e pai de Ofélia. Reproduzo um trecho, com tradução imediata de Péricles da Silva Ramos:
– O Jephthah, judge of Israel, what a treasure hadst thou!
– Ó Jefté, Juiz de Israel! Que tesouro possuías!
– What a treasure had he, my lord?
– Que tesouro possuía ele, meu Senhor?
– WHY,
‘One fair daughter and no more,
The which he loved passing well.’
– ORA,
“Apenas uma linda filha
que ele adorava à maravilha!”
–
O tradutor paulista verteu o “Why!” de Hamlet para “Ora!”. Um mineiro escolado teria colocado “Uai!”- como na pronúncia correta inglesa.
–
Conta-se que o presidente Juscelino, que era de Minas, recomendou à professora Dorália Galesso que pesquisasse a origem da expressão e que ela fez isso e concluiu que os Inconfidentes Mineiros conspiravam em porões e, sendo quase todos de origem maçônica, recebiam os companheiros que chegavam dando as três batidas clássicas da Maçonaria nas portas dos esconderijos, perguntando “Quem é?” E os de fora respondiam: “UAI” – as iniciais de União, Amor e Independência.
Desde que li o “Hamlet” a primeiro vez, nos anos 60, prefiro a versão de que o “uai” dataria de 1824, quando a empresa britânica Imperial Brazilian Mining Association se instalou em Minas e lá permaneceu quase três décadas, na exploração de ouro e, desta forma, propagando a língua e os costumes da terra do Biu… Shakespeare.
W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.
E-mail: waldemarsolha@gmail.com