A foto acima é emblemática, com o político mineiro Juscelino Kubitschek ao centro, em 1971, cercado de alguns conterrâneos seus, nomes importantes de um movimento que, de certa forma, marcou a música nacional. Minas Gerais legou ao cancioneiro popular brasileiro muita gente boa, principalmente a partir da década de sessenta, época em que despontaram nomes como Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, Márcio Borges, Wagner Tiso, Toninho Horta, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Flávio Venturini, 14 Bis e tantos outros, que faziam uma deliciosa fusão entre música brasileira da melhor qualidade e o que apontavam os rumos da música pop internacional, recebendo profunda influência, nesse contexto, dos quatro rapazes de Liverpool. Nesse caldo também entravam elementos tão díspares como rock progressivo e psicodélico, jazz, bossa nova, música erudita, ritmos latinos e a música folclórica do interior de Minas. Era um som meio bicho-grilo, meio universal, por assim dizer.

Todo esse cenário musical abrangeu um movimento batizado de Clube da Esquina, que surgiu da amizade entre Milton Nascimento (artista que ganhou maior projeção no grupo, inclusive internacional) e os irmãos Borges (Márcio e Lô). Ao tentar promover uma integração musical entre o Brasil e o restante da América Latina, explorando novas sonoridades, o Clube da Esquina é um dos precursores da chamada World Music, a nível internacional, e da música New Age, no cenário brasileiro.

A grande mídia nacional, naquela época, mormente a do eixo Rio-São Paulo, sempre deu mais espaço e intensidade à divulgação de movimentos como o Tropicalismo, por exemplo, encabeçado por artistas baianos ligados a outros nomes em São Paulo, relegando a um segundo plano músicos mineiros excepcionais. Sem dúvida, o Tropicalismo quebrou paradigmas na cultura nacional e revolucionou a forma como se escrevia letras de canções no Brasil – há que se concordar que algumas letras de Caetano Veloso ou Gilberto Gil são realmente acima da média.

Com relação, todavia, à música em si, muita coisa do que se pratica hoje no país, envolvendo música popular contemporânea, deve muito ao grupo que veio das Minas Gerais. A mídia mainstream de nosso país parece que deixou de lado rapazes meio tímidos e ensimesmados, com aquele jeito meio desconfiado que tão bem caracteriza a “mineirice” de muitos mineiros. Pelo visto, nossos jornalistas culturais encantavam-se, em maior intensidade, pelos espalhafatosos bons baianos…

Thiago Andrade Macedo: escritor infiltrado no serviço público federal, advogado não militante, autor do romance policial, psicológico e filosófico O Silêncio das Sombras, também atuou como articulista do jornal A União; filho de pernambucanos nascido nas Minas Gerais, atualmente é um ex-nômade radicado em João Pessoa, Paraíba.

E-mail: thiagojpam@yahoo.com.br