Foto: José Lorvão
O plantio nunca foi tarefa fácil. Ou porque escasseiam as sementes ou porque elas se revelam apodrecidas pela invasão de fungos. Semear a beleza no sentido de união com a própria natureza, revela-se empreitada ainda mais problemática, uma vez que o Homem molda-se de acordo com os seus apetites, que têm tanto de superficiais como de ambíguos.
No que à sociedade diz respeito, então a dança dos radicalismos é vergonhosa para quem se ousa rotular de humano. Cabe-nos a hercúlea faina de nos mantermos vigilantes, para que o denunciar e divulgar faça parte de um plano de esclarecimento, nunca esquecendo a autonomia e a resistência de quem sabe apontar o caminho de edificação e ligação com o todo.
A civilização pauta-se pela autodeterminação com vista ao desenvolvimento das potencialidades humanas. A coragem civil para fazer frente às normas e leis injustas, encontra-se em todos os tempos, das mais variadas formas e com múltiplos rostos.
A ambição desmedida pelo dinheiro e o poder, como se deles retirássemos a tão desejada eternidade, é então o veneno que se instala mesmo na invisibilidade da mediocridade dos corruptos. A xenofobia, o preconceito, a exploração estão interligadas num alheamento e taciturnidade assassina da liberdade, enquanto a multidão segue eufórica o superficialismo da robótica decadente.
Apatia e alienação conduzem ao estado de servidão e escravização que adquirem novo formato a cada época histórica, mas conservando a mesma essência de acabrunhamento, onde os mitos criam teias de tédio e o desânimo abre portas a despotismos.
O estado de rebelião pode ser uma janela para o intercâmbio de ligação total entre o Homem e o cosmos, pois a vacuidade das leis e a hipocrisia germinam numa linguagem que só comunica vulgaridades como expressão do declínio, e arrasta consigo os sintomas decisivos de esgotamento.
Ana Maria Oliveira: premiada escritora portuguesa nascida no Alto Alentejo, licenciada em Filosofia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa, possui livros de poesia publicados e participou de coletâneas de escritores lusos; mantém alguns sites onde divulga a sua escrita; ultimamente está ligada ao projeto “Filosofia para crianças”.
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