O pensamento de Platão é tão vasto e importante que deu origem a uma famosa expressão do filósofo e matemático britânico Arthur North Whitehead: “toda a filosofia ocidental são notas de rodapé a Platão.” Como outros pensadores, enfrentou a problemática da permanência e da mudança, da unidade e da multiplicidade, ou seja, teve que tomar partido no velho embate entre Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eleia.

Sua teoria das ideias representa a tentativa de conciliar as duas grandes tendências anteriores da filosofia grega: a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito. Trabalhou de forma genial esses conceitos baseados no dualismo entre o mundo sensível e o mundo inteligível em seu famigerado “mito da caverna”, que conduziria o homem do mundo das aparências ao mundo da realidade, soberba metáfora do conhecimento humano.

Influenciado pelo modelo da severa sociedade espartana, em sua obra A República, imaginou uma sociedade ideal, governada por reis-filósofos, representando uma concepção política aristocrática (do grego “aristoi” = melhores, e “cracia” = poder), isto é, a grande massa seria incapaz de dirigir a cidade, e o poder seria exercido pelos “melhores”, que formariam uma “elite” (do latim “eligere” = escolhido). Na verdade, trata-se de uma “aristocracia do espírito”, que não está baseada no poder econômico. Em A República, bem como nas obras O Político e Das Leis, Platão considera três formas de governo ideais e suas versões corrompidas. Respectivamente, as melhores formas de governo seriam a monarquia, a aristocracia e a democracia. A corrupção dessas formas seria a tirania, a oligarquia e a demagogia.

Os questionamentos platônicos são essenciais para a filosofia e o pensamento humano. Envolvem a questão da possiblidade de conhecimento e de seu objeto; o método a ser empregado; o uso dos sentidos e da razão; o significado da virtude, da democracia, o valor da arte etc.

Para Platão, o filósofo seria um mediador entre o sábio e o ignorante. Essa é a missão político-pedagógica do filósofo. É exatamente por isso que o prisioneiro, após se libertar do mundo das sombras e de escuridão da caverna, retorna a ela para tentar convencer seus outrora companheiros da existência de uma realidade superior, baseada no conhecimento.  Sua famosa frase “A filosofia começa com a perplexidade” traduz o homem como ser racional em sua mais pura essência. Sem sombra de dúvida (nem mesmo dentro da caverna!), Platão é um dos nossos pais.

Thiago Andrade Macedo: escritor infiltrado no serviço público federal, advogado não militante, autor do romance policial, psicológico e filosófico O Silêncio das Sombras, também atuou como articulista do jornal A União; filho de pernambucanos nascido nas Minas Gerais, atualmente é um ex-nômade radicado em João Pessoa, Paraíba.

E-mail: thiagojpam@yahoo.com.br