De um espaço cultural nasceu esta obra colectiva (de Helena Barbas, Maria Máxima, José Carlos Fernández, Paulo Loução e e outros), que pretende dar uma visão inovadora. Não se trata de uma biografia corrente e correntia, mas de estudos independentes, parcelares, sobre os diversos temas (como, por ex., o sábio, o trovador, o fundador da Universidade, o defensor dos Templários, o Criador da Ordem de Cristo, etc.) abordados de uma forma clara e intensa, analisando o possível, sintetizando o possível, numa linguagem académica e séria, que foge, no entanto, à erudição deslavada e pomposa.

Páginas suficientes dedicadas à Rainha Santa Isabel. Já li muitas biografias da Rainha Santa, muitas delas lamechas e sentimentais, quase todas defraldando uma afectividade subjectiva alicerçada na própria santidade da personagem, faltando, muitas vezes, o sentido crítico, sobrando, muitas vezes, os encantos das lendas e das tradições. (De resto, durante muitos anos acalentei eu também ter a minha biografia da Rainha Santa, coleccionando tudo o que sobre ela se escrevia, isso passou…).

Dinis foi um grande rei (colocam-no na história ao nível de D. Afonso Henriques e D. João II, sem mais comparações) e comparar a sua visão, acção, entendimento dos homens com os políticos que hoje nos governam é totalmente impossível, como comparar o bom com o mau. (Estes políticos, em vez de cultivarem a intriga, se estudassem o reinado de D. Dinis tinham muito a aprender e a melhorar). D. Dinis sempre preencheu o meu imaginário e a razão é clara: “1282 – A rainha Isabel com 12 anos é recebida pelo rei lusitano em Trancoso a 24 de Junho em clima de festa.”

Nesses tempos, o papas, com o seu poder espiritual, impunham (ou queriam impor) um poder político e de domínio sujeitando os reis, estes não estavam pelos ajustes, revoltavam-se, papas e bispos excomungavam, assim, aquando do casamento de D. Dinis com D. Isabel (feito por procuração em Barcelona), Portugal e Aragão estavam interditados, sujeitos às limitações religiosas. Daí que os reis pudessem ter do papa e do catolicismo opiniões diferentes daquelas que hoje os católicos comungam por obediência e fé.

O catolicismo exaltava uma das pessoas da Santíssima Trindade, Jesus Cristo, centro e apogeu da religião maior, subalternizando na devoção e no entendimento o Deus-Pai e o Espírito Santo. D. Dinis, sob a influência da Rainha Santa, incentivou o culto do Espírito Santo, talvez, no meu entender, como uma força oposta ao papa e à hierarquia católica, fazendo a religião ganhar outra dimensão, apelando ao espírito e ao povo, já que em tais festejos, era coroado com a coroa do Espírito Santo um menino ou um homem do povo.

Lima de Freita escreveu neste livro que no culto do Espírito Santo “(…) reflecte-o a nossa literatura, de Bandarra a António Vieira, de Camões ao Fernando Pessoa do “Quinto Império” e da Mensagem”. E o Padre António Vieira haveria de se haver com a Inquisição por reconhecer “Bandarra como poeta iluminado”.

António da Silva Neves: português, natural de Trancoso, sua obra abrange a crônica, a poesia e o ensaio, com destaque para os livros Contos Peninsulares Manuel Alves, o Poeta da Bairrada, além de sua colaboração em vários jornais e revistas portugueses, entre os quais Horizonte, Mensagem, Brasil, O Castelo, O Jornal da Província, Semanário da Região Bairradina, entre outros.

E-mail: antonio.silva.neves.trancoso@gmail.com