Eu me escangalhava de rir – séculos atrás – com Tom & Jerry, Oscarito & Grande Otelo, Carlitos e Jerry Lewis. Mas em maio de 63, a sessão Pif-Paf da revista O Cruzeiro levou os Diários Associados à demissão de Millôr Fernandes por uns versos, daqueles que nos levam a rir… maravilhados com a inteligência de sua concepção, por isso jamais os esquecerei:
“Essa pressa leviana
Demonstra o incompetente:
Por que fazer o Mundo em sete dias
Se tinha a Eternidade pela frente?”
Era um gênio, realmente, como se não bastassem a exposição de seus desenhos e pinturas no MAM, em 57, suas traduções de várias obras de Shakespeare, suas participações no Pasquim. A memória seletiva me guardou duas cenas suas, de seu Teatro Corisco, no mesmo Pif-Paf:
“O macaco se gaba de ser a criatura mais assemelhada ao homem:
– Ando como ele, como igual a ele…
O papagaio:
– Mas eu falo como ele.
– E eu não estou falando?”
“O passageiro vê os garotos trigêmeos no assento ao lado, cada qual fissurado numa revista: um lendo sobre corrida de carros, outro, sobre futebol, o terceiro com uma Playboy. Puxa conversa. Diz ao primeiro:
– Posso imaginar o que você quer ser quando crescer: piloto de Fórmula-1. Já você… quer ser outro Pelé. Mas e você?
– Eu? Só quero crescer.”
Pode surgir outro melhor. MILLÔR, impossível!
W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.
E-mail: waldemarsolha@gmail.com