O nome de batismo recebido por Platão, quando nasceu em 428 a.C., foi Arístocles. Poderíamos até dizer, em decorrência do nome que nos soa estranho, “pobre Arístocles!”. No entanto, Platão já despontou sólido, forte. Sua ascendência era nobre: seu pai, Aristo, era descendente de Codro, o último rei de Atenas; sua mãe vinha da linhagem de Sólon, notável legislador ateniense.
Platão era um famigerado atleta. O nome pelo qual o conhecemos hoje era o que ele usava na arena. Platão significa “largo” ou “plano”. Levando-se em conta a primeira acepção, seu apelido era uma alusão a seus ombros, à envergadura da robustez de sua compleição física. Outras fontes nos dizem que seu apelido vem do tamanho de sua testa!
Alguns pensadores modernos, como Nietzsche e Heidegger, acreditam que o enorme peso da estrutura teórica criada por Platão e seu antecessor Sócrates desvirtuou o caminho normal que as investigações filosóficas poderiam seguir. É bom notar que, nesta época, o século V a.C., a filosofia tinha apenas duzentos anos.
Foi Pitágoras quem influenciou Platão de modo mais decisivo. Há mais de dois mil e quinhentos anos, muitos filósofos faziam um pouco de tudo, e Pitágoras não foi uma exceção: conseguiu conciliar com a filosofia os papéis de líder religioso, matemático, místico e especialista em nutrição(!).
Sua famosa sentença “tudo é número” influenciou profundamente o gênio de ombros largos. Pitágoras acreditava que, para além do mundo confuso e estranho das aparências, haveria um mundo abstrato, perfeito e harmonioso dos números. O mundo ideal dos números, ponto inicial para a teoria das ideias de Platão, era repleto de harmonia e mais real do que o assim chamado mundo real. Foram os pitagóricos (assim chamados Pitágoras e seus seguidores) que identificaram o elo formidável entre os números e a harmonia musical.
O argumento mais recorrente utilizado contra Platão e Sócrates é que os dois pensadores cometeram o erro de tratar o topo do conhecimento humano como uma sondagem racional. Eis aí o grande erro: a introdução da análise e do argumento irrefutável pôs tudo por água abaixo.
A filosofia mal começara, mas, para os detratores de Platão e seu mestre Sócrates, foi a partir daí que ela se perdeu, fazendo com que, ao longo dos séculos, surgissem pensadores que agiriam como reparadores da filosofia. Tal qual encanadores a consertar tubulações, esses filósofos fariam o mesmo no terreno mais alto do saber humano: retificariam conexões e dariam um novo caminho a determinados campos de abordagem.
Ora, mas esse lero-lero também não deixa de ser mais uma conjectura… “Words, words, words…” Desvirtuado ou não, o pensamento humano ainda mantém muito de seu charme e poder de persuasão, quando utilizado de maneira elegante, civilizada e, porque não dizer, subversiva. Afinal, como bem nos alertou Pascal: “O homem é feito visivelmente para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever é pensar bem.” Ainda que o caminho possa ter sido mudado, continuemos pensando e nos afastando da selvageria e da estupidez.
Thiago Andrade Macedo: escritor infiltrado no serviço público federal, advogado não militante, autor do romance policial, psicológico e filosófico O Silêncio das Sombras, também atuou como articulista do jornal A União; filho de pernambucanos nascido nas Minas Gerais, atualmente é um ex-nômade radicado em João Pessoa, Paraíba.
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