Blade Runner 2049 é, sem dúvida nenhuma, um dos melhores filmes desta década e um dos raros casos de sequências que dão certo. Isso acontece muito por causa de seu diretor – o franco-canadense Denis Villeneuve –, que aceitou o projeto por causa de seu amor pelo filme original e por um bom cinema.

No filme, acompanhamos o caçador de andróides ‘K’ – interpretado por Ryan Gosling – descobrir uma caixa enterrada que possui mais segredos do que qualquer um esperava. Essa trama envolvendo mistério é algo bem recorrente no cinema de Villeneuve. Em muitos de seus filmes, vemos o protagonista levar o público pela resolução de um mistério que acaba trazendo consequências permanentes para sua vida.

Isso se comunica muito bem com o filme original, no qual Deckard, o caçador de androides, tem sua visão de mundo totalmente alterada pelos acontecimentos de sua jornada. Muitas das reflexões iniciais que o personagem possuía são respondidas. Porém, tantas outras surgem. E, muitas vezes, o mesmo acontece com quem assiste a tais filmes.

Replicantes ou humanos, os personagens do universo Blade Runner parecem buscar um sentido para sua vida, em um mundo distópico hipertecnológico, em que a chuva ácida parece ser a única coisa constante. Em uma realidade na qual, a cada dia, a barreira entre o virtual e o real parece diminuir, buscar algo como um sentido para a sua vida deve ser algo extremamente complicado.

‘K’ acredita que o seu lugar no mundo traz consigo um tom único. Ele crê que é um replicante diferente de todos os outros: ele seria aquele que vai mudar toda a relação entre humanos e replicantes – um pensamento que é destruído ao fim de sua jornada. Só que isso não faz dele menos herói do que quando se pensava que ele era o ‘Messias’ Replicante.

É preciso coragem para sair da caverna de Platão e enfrentar o que reflexões como essas trazem para nossa vida. Mesmo não obtendo o resultado que esperava, ele auxilia outros a alcançarem sua razão no mundo – raison d’être. ‘K’ não se torna o herói que ele desejava ser, mas o herói que o mundo precisava que ele fosse.

Blade Runner 2049 é uma película que traz mais perguntas que respostas. O filme traz questões existencialistas fundamentais na vida moderna, com atuações espetaculares, uma fotografia maravilhosa – Roger Deakins em um dos melhores trabalhos de sua carreira –, e mais um trabalho espetacular do sempre sensacional Denis Villeneuve.

Blade Runner, o caçador de andróides demorou muitos anos para cair nas graças do grande público. Penso que o mesmo ocorrerá com seu sucessor. Não é um filme fácil de ser digerido, mas, no seu devido momento no tempo, receberá todo o apreço que merece.

Rodrigo Maracajá: radicado em João Pessoa, é um dos autores da novíssima geração, crítico de cinema, estudante de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, desbravador da literatura e apaixonado por música e HQs.

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