Na Holanda protestante, de templos nus, aparecia, nesse ínterim, outro tipo de patrocinador: o grande empresário, acionista de multinacionais tipo Companhia das Índias Orientais – que explorava o Sudeste Asiático -, ou Companhia das Índias Ocidentais -, que se apropriaria do Nordeste brasileiro no século XVII. Esses milionários, orgulhosos das próprias performances, é que patrocinaram uma nova reviravolta na Arte, cheia de grandes retratistas como Rembrandt e Frans Hals.
É quando surge, também, nova linha de mecenas: a dos reis, como Filipe IV, da Espanha, cercado de grandes artistas como Velásquez e Rubens.
Um século depois, na França, outro rei amigo das artes: Luís XIV.
Como toda ação provoca reação igual e contrária, aparece em seguida, nesse mesmo país, outro grande patrocinador, Napoleão, esse com a paixão pelos césares, da qual surgiria o neoclassicismo. Graças a Bonaparte, temos museus repletos de grandes retratistas, como David, Gros, Meissonier e Ingres.
Já no século XX irrompe novo personagem: o colecionador, cujo grande protótipo foi o milionário americano Leo Stein, irmão de Gertrude Stein. Picasso estava numa pior quando caiu nas graças da poeta, que orientou o irmão no sentido de tirá-lo da apertura e do anonimato, mediante aquisição, divulgação e revenda – na Europa e Estados Unidos – de um grande lote de suas obras.
Mais famosa do que Leo Stein, Peggy Guggenheim, recebeu, aos vinte e um anos, com a morte do pai no naufrágio do Titanic, a fortuna com que, transferindo-se para Paris, passou a comprar obras de arte, orientada pelos amigos Marcel Duchamp e Constantin Brancusi. Durante a Segunda Grande Guerra adquiriu uma quantidade enorme de arte abstrata e surrealista, alavancando a carreira de muitos pintores, como o americano Jackson Pollock e o alemão-francês Max Ernst.
Ela tivera um precedente na família: o tio Solomon Guggenheim, que contratara o maior arquiteto norte-americano da época – Frank Lloyd Wright – para construir nada menos do que o Museu Guggenheim, de Nova Iorque. Sua fundação criou mais quatro grandes museus, mundo afora, inclusive o de Bilbao, na Espanha.
A mesma sorte de Picasso, de Tutmés, de Lisipo, de Max Ernst e de Almeida Júnior teve o enorme arquiteto catalão – mestre do art nouveau na Espanha – Antoni Gaudì, ao cair nas graças do riquíssimo empresário Eusebi Guell, ou não teríamos tantas obras-primas em Barcelona.
Mas o mérito da realização ou projeção de grandes obras não fica apenas para esses apaixonados ricos ou poderosos. No hemisfério norte há enormes incentivos governamentais para quem investe em Arte, daí a existência do Crystal Bridges, no estado do Arkansas, num empreendimento da colecionadora Alice Walton, herdeira da rede de supermercados WallMart. Daí, também, o Art Centre da Ellipse Foundation, instalado em Cascais, na grande Lisboa, iniciativa do banqueiro português João Oliveira Rendeiro e, ainda, a Neue Galerie, de Nova York, obra de Ronald Lauder, herdeiro da empresa de cosméticos Estée Lauder .
Paralelamente, no século XX, surgiram no mundo todo as bienais, com a proposta de sempre apresentar a última palavra nas artes plásticas, acabando por criar (através de grande estardalhaço na mídia) tendências radicais. O paraibano José Rufino teve seu prestígio nacional e internacional avalizado pela XXV Bienal de São Paulo; pela Bienal Barro de América Roberto Guevara, na Venezuela; pela VI Bienal de Havana; pela 1ª Bienal de Arte Contemporânea do Fim do Mundo, na Argentina e pela II BIENAL DE ARTES VISUAIS DO MERCOSUL.
Resumindo, embora não pareça “nobre” a dependência da genialidade ao mecenato, seja ele individual ou coletivo, público ou privado, ela existe. Os que ficam fora dele, ficam… de fora. Nada de voos maiores, como o de um teto de Sistina, de um Parque Güell, de um 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Não que tais artistas deixem de ser geniais por isso, mas ficam, também, sem mídia, e arte, antes de tudo, é comunicação. Exemplo óbvio? Van Gogh. Mas seu caso não foi isolado. Houve, em sua época, uma multidão de pintores notáveis, os naturalistas, que – mais infelizes ainda, pois pelo menos ele teve reconhecimento póstumo – ficaram como estão até hoje: no limbo, com seu movimento abafado pelo sucesso impressionista e, depois, pelo cubista. Dura realidade. Mas realidade.
Eu – W. J. Solha – , em meus envolvimentos com a produção do primeiro longa-metragem paraibano, a realização do painel Homenagem a Shakespeare, da UFPB, e de centenas de outros quadros, alguns espetáculos e a publicação de vários romances e poemas longos, todos de rendimento zero, perto disso e até abaixo disso – tive, também, meu mecenas: o funcionário do Banco do Brasil, Waldemar José Solha. Um mecenas de pequeno porte, para um autor que também nunca foi nenhuma brastemp. Mas pobre de mim se não fosse ele…
EM TEMPO. Assim como o realismo foi imposto pelo faraó Akhenaton e por Alexandre Magno, aconteceu, também, na União Soviética de Stálin, com a preocupação de passar ao povo e ao mundo uma imagem de onipresença e onipotência, bem como de uma sociedade idealizada de proletários num paraíso. Isso fez com que artistas como Chagall e Kandinsky – este, o criador do abstracionismo – se mandassem de lá.
W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.
E-mail: waldemarsolha@gmail.com