São diversos os temas de sua filmografia: a beleza, a linguagem, a natureza, o amor, a revolução, a esperança e o humor. Jean-Luc Godard dirigiu, entre outros, Acossado, Alphaville, O Desprezo, Éloge de l’amour, Adieu au langage, mas esses não são o protótipo do filme de aventura ou de ficção-científica ou de amor porque são como se fossem filmes novos e originais.

Autor de 219 trabalhos, entre curtas-metragens, longas-metragens, livros, vídeos, discos, JLG combinou estilos, cruzou ritmos, embaralhou gêneros, explodiu chavões, rejeitou códigos, investigou questões ideológicas e formais, arquitetou paródias, formulou metalinguagens, escreveu com a câmera, plagiou e citou, citou compulsivamente, produzindo uma intertextualidade e uma polifonia que é um caso à parte na história do cinema.

Nascido no sétimo arrondissement de Paris, o polêmico diretor assim define a sua arte: “Eu me considero um ensaísta, faço ensaios em forma de romance, ou romance em forma de ensaios: simplesmente, eu os filmo, em vez de escrevê-los”.

Godard declarou ter três mestres: o crítico de cinema André Bazin e os diretores Carl Theodor Dreyer e Roberto Rossellini. Sempre que pode manifesta sua admiração por Alfred Hitchcock, Howard Hawks, Otto Preminger, Nicholas Ray, Fritz Lang, Samuel Fuller, John Ford e o desconhecido, mas brilhante Edgar G. Ulmer, a quem dedicou um de seus filmes.

Sobre esse parisiense de nascimento e que em dezembro  completará 88 anos de vida em plena atividade, reproduzo as palavras da filósofa  Susan Sontag: “Seu trabalho constitui uma formidável meditação sobre a possibilidade do cinema. Ele entra para a história da sétima arte como a sua primeira figura conscientemente destrutiva. Dizendo de outra maneira, podemos afirmar que Godard é, provavelmente, o primeiro diretor a pensar o cinema no nível da produção comercial com uma explícita intenção crítica”.

A melhor síntese que conheço sobre a obra do criador de La Chinoise foi formulada por Maria-Claire Ropars-Wuilleumier: ”O que é colocado na imagem é o texto”.

No entanto, o biscoito fino de sua lavra enfrenta um período de  baixa. Diferente da época quando jornais, rádio, televisão e revistas festejavam a estreia de seus filmes. O Rio varava noites debatendo as ideias do ex-crítico da revista Cahiers du Cinéma. De outro lado, São Paulo fervilhava e o resto do país era prodigo em elogios para o vanguardista Jean-Luc Godard.

Por bem ou por mal, o diretor de Je vous salue, Marie foi o grande revolucionário da linguagem cinematográfica que perpetuou a vida em imagens, palavras, sons e ritmos inusitados.  

Seguramente seu mofo é passageiro. Pois na arte o que reina é o vaticínio de Glauber Rocha: “Bem-aventurados os loucos porque eles herdarão a razão.”   

Marcius Cortez: publicitário, crítico literário e escritor potiguar radicado em São Paulo, foi redator de várias agências, entre as quais a DPZ, a JW Thompson e a Norton, tendo publicado vários livros, sendo o mais recente o impressionante Stanley Kubrick: o monstro de coração mole.

E-mail: marciuscortez@hotmail.com