Augusto de Campos? Resumo do Wikipédia:

“Tradutor, ensaísta, crítico de literatura e música, publicou em 51 seu primeiro livro de poemas, O rei menos o reino. Em 52, com o irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari, dando início ao movimento internacional da Poesia Concreta no Brasil, lançou a revista literária Noigandres, origem do grupo Noigandres.”

Como no filme “Blow-up” (1966, de Antonioni, a partir do conto “Las Babas del Diablo”, de Cortázar) em que um fotógrafo, ao ampliar uma foto, dá com o flagra de um assassinato, fecho a zoom no ensaio “Todos os sons – diálogo com a música de Anton Webern, John Cage e João Gilberto” – II parte do livro “A Antirretórica do Menos – leituras sobre Augusto de Campos”, de Fábio Vieira – ed. Caule de Papiro, 2016 (foto da capa abaixo, ampliada) -, e fecho mais um pouco, centrando no brasileiro. Veja que observação soberba o Fábio Vieira foi buscar no “Poesia Concreta Brasileira: As Vanguardas na Encruzilhada Modernista”, de Gonzalo Aguilar:

– “A eliminação da rua como célula de organização urbana, no “Plano Piloto” de Lúcio Costa, era homóloga à eliminação do verso na Poesia Concreta“.

Tentei viver em Brasília, como tentei gostar de John Cage, de Webern, de Poesia Concreta, mas não me saí bem em nenhum dos casos. Porém ninguém é uma ilha. Quando se descobre artistas menos evidentes contemporâneos dos “originalíssimos” Hieronymus Bosch e Antoní Gaudí constata-se que essas duas figuras geniais não surgiram do nada. Daí que – segundo Fábio Vieira, o verso “chega de poesia”, que figura no poema concreto “2ª. Via” (de 1994) de Augusto de Campos, “ecoa parodicamente a revolução estética contida em “Chega de saudade” de João Gilberto”. Bom, o verso, apenas, porque João e Augusto são de 31 e quando se fez a gravação dessa obra-prima de Tom e Vinicius – em 58, o concretismo já ia com tudo, na estrada. Dois anos antes, Augusto de Campos participara da organização da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta (Artes Plásticas e Poesia), no Museu de Arte Moderna de São Paulo e o movimento ganhara o mundo.

Fascinado pela ópera clássica desde os onze anos, eu mesmo sempre fui… desafinado, e foi ótimo o contraste enorme que vi na aparente singeleza, tão brasileira, da bossa-nova. Fábio Vieira conta que Tom Jobim falava num cantar “cool”, conta que Rocha Brito evidenciava, ali, “a valorização da pausa, do silêncio” – inovações atribuídas ao erudito Webern. Cita Júlio Medaglia: “Rigor, clareza e condensação máxima de elementos”, no sentido de “tocar menos e fazer-se ouvir mais”. É é fascinante a maneira como “A Antirretórica do Menos” vai buscar detalhes, como os que Roberto Menescal – segundo Ruy Castro – viu nas mãos, nos músculos do antebraço, nos dedos de João Gilberto tocando, ou observações cruciais como as de Luiz Tatit, de que o revolucionário intérprete “neutralizou o efeito da batucada que, por trás da harmonia, configurava o gênero samba” e “desfez a relação direta entre o ritmo instrumental e a dança”.

Como me deu prazer inteirar-me de tais lances!

 

W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.

E-mail: waldemarsolha@gmail.com