Mais recentemente, Schopenhauer influenciou de modo decisivo o último dos filósofos, digamos, tradicionais. O contemporâneo vienense de Freud, Ludwig Wittgenstein, sofreu forte impacto do pessimismo e da visão naturalmente mística de Schopenhauer. A famosa expressão de Wittgenstein “Sobre aquilo que não se pode falar, devemos calar” – que encerra sua obra de mestre Tractatus logico-philosophicus – pode estar se referindo ostensivamente à linguagem e ao significado, mas ainda tem misteriosa semelhança com a defesa que Schopenhauer faz do retraimento da obscura e invisível Vontade, a qual, cega e irrefreável, permanece para sempre além de nosso entendimento.

Sua ideia da “primazia da vontade” influenciou notadamente filósofos como Nietzsche, Bergson, James e Dewey. Schopenhauer tem um forte viés idealista, ao pregar uma postura ascética do homem para superar as “dores do mundo”. Sua estética nos guia a uma ética. A libertação pela arte seria apenas relativamente passageira: são instantes, momentos fugazes de alguma sublimação. A arquitetura, a escultura, a música, a poesia seriam a tradução das ideias, dos arquétipos. Ao contemplar as diversas formas de arte, que traduzem tais ideias, essências, modelos abstratos, fora do tempo e do espaço, além da contingência e da causalidade, o homem busca suplantar a realidade absurda que é o mundo das representações.

A experiência estética seria, dessa forma, uma espécie de anulação temporária da Vontade, na qual o homem, ao intuir ideias eternas através da contemplação, afasta-se de seus desejos e fecha os olhos para suas necessidades. Mais uma vez, recorro às sábias palavras do Professor Marcílio Toscano: “O que Schopenhauer propõe na verdade é uma ‘filosofia do consolo’. O que o homem teme é o devir. É tão quimérico o nada depois da morte quanto a ociosidade num paraíso religioso.”

A obra Parerga et paraliponema (do latim “Ornamentos e omissões”), por sua vez, contém uma série de tópicos repletos de um humor amargo sobre uma ampla gama de assuntos. Esses ensaios e aforismos permanecem tão atuais, perspicazes e provocativos hoje quanto o eram na época de seu surgimento, sendo decididamente a obra de leitura mais acessível escrita por um grande filósofo desde Platão, mantendo surpreendentemente sintonia com a sensibilidade moderna, apesar de certas bizarrices facilmente reconhecíveis.

Uma das sentenças do gênio alemão diz muito a respeito do cerne de seu ideário: “Minha filosofia inteira pode resumir-se em uma expressão: o mundo é o autoconhecimento da Vontade.” Por fim, ao homem seria imperativo mortificar os instintos, anular a vontade e fugir para o Nada. Seria Schopenhauer o último romântico? Talvez. O certo mesmo é que ele não via a vida melhor no futuro…

Thiago Andrade Macedo: escritor infiltrado no serviço público federal, advogado não militante, autor do romance policial, psicológico e filosófico O Silêncio das Sombras, também atuou como articulista do jornal A União; filho de pernambucanos nascido nas Minas Gerais, atualmente é um ex-nômade radicado em João Pessoa, Paraíba.

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