Para ornamentar uma nova estação de trem é pedido ao Senhor Gateau, um experiente relojoeiro, que ele construa o relógio central da estação. Por diversos meses esse foi seu único foco, e tudo ia bem até que ele e sua esposa recebem uma carta do exército. Nela a triste notícia de que seu único filho faleceu na guerra. Após essa perda o senhor trabalha com ainda mais fervor na finalização de sua obra.

No dia da abertura, que contou até mesmo com a presença do presidente Teodore Roosevelt, uma surpresa. O relógio está contando o tempo de trás para frente. Ao ser questionado Gateau responde que o fez dessa maneira para que talvez todos os jovens que morreram na guerra possam retornar as suas famílias. Retornar para trabalhar, para viver com suas famílias, para ter filhos, para retornar as suas vidas.

Esse comovente e intrigante conto é a cena de abertura de um filme com uma história única, O Curioso Caso de Benjamin Button (2008). Nesse filme do americano David Fincher acompanhamos Benjamin Button, um jovem com uma condição singular. Benjamin tem um processo de envelhecimento diferente das demais pessoas, quanto mais velho fica, mais jovem sua aparência se torna.

Não existe diferença entre o passado e o futuro, isto é, para as leis da física que regem as nossas vidas não há distinção entre essas unidades do tempo. Isto é, elas se aplicarão de forma igual, seja no presente, passado ou futuro. A Entropia é o único processo da física que ocorre apenas em uma direção. Tudo possui uma certa quantidade de entropia em si, e quando algo ocorre esse número aumenta. Por exemplo, o universo se encontra num processo perpétuo de expansão, e que jamais será revertido. Em outras palavras, a entropia desse sistema só tende a subir.

A partir desses processos se torna possível perceber e marcar a passagem do tempo. Ao derrubar um vaso é impossível que ele retorne a sua forma original, ao remontá-lo ele estará coberto de rachaduras. Essas rachaduras são o efeito da entropia dentro daquele sistema, “a fumaça nunca retorna ao cigarro”. Essa ação universal descreve muito bem a sensação do que é ser humano.

Um dia até mesmo o sol atingirá uma quantidade de entropia em si que o levará ao seu fim, e consequentemente ao nosso também. Ao cessar de queimar, o sol se expandirá e levará com eles os planetas mais próximos, deixando os que não forem destruídos em condições inabitáveis. O problema do universo nunca será espaço, isso há de sobra. O grande algoz de qualquer coisa que já vive, viveu ou ainda há de viver é e sempre será o tempo.

Até mesmo para o protagonista da história que abriu essa resenha, é impossível escapar do tempo. Mesmo que Benjamin interaja de forma reversa, essa lei ainda se aplica a ele. E creio que é aproximadamente por aí que eu extraio esse pensamento sobre o filme, o tempo é um só pra todo mundo. Vamos nascer, crescer, conhecer, desbravar, ler, ver, crer, amar, perder, envelhecer, morrer.

E não digo isso tudo com tristeza ou pesar nenhum, nem mesmo penso que o tempo seja um vilão. O tempo age sobre todos da mesma forma, traz sobre todos o mesmo resultado. Talvez um dia possamos evitar o badalar final, mas até lá só nos resta desfrutar dos momentos e daqueles que nos cercam. Já que essa é a nossa forma de se manter eterno, continuar a viver no pensamento daqueles que ficam…

Rodrigo Maracajá: radicado em João Pessoa, é um dos autores da novíssima geração, crítico de cinema, estudante de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, desbravador da literatura e apaixonado por música e HQs.

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