“Paremos de indagar o que o futuro nos reserva e recebamos como um presente o que quer que nos traga o dia de hoje.”

             Heráclito

 

Alejandro Gonzáles Iñárritu é um diretor mexicano que em 2016 entrou para um seleto grupo ao vencer o seu segundo Oscar consecutivo na categoria de melhor diretor. Um feito que havia ocorrido apenas outras duas vezes em toda a história da premiação, isto é, além dele, apenas os americanos John Ford (em 1940 e 1941) e Joseph L. Mankiewicz (em 1949 e 1950) também haviam conseguido essa proeza. Suas vitórias vieram através de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) e O Regresso, esse último tendo sido apenas seu sexto longa-metragem. Quando se descobre que Iñárritu completa duas décadas de seu primeiro longa neste ano, a sua conquista se torna ainda mais grandiosa e surpreendente. Desde seu trabalho de estreia, ele já demonstrava ter algo de especial.

A obra que deu início à carreira cinematográfica de Iñárritu é o drama mexicano Amores Brutos (2000) – que traz também Gael García Bernal em seu primeiro papel de destaque interpretando Octavio, o protagonista da história. O longa começa de uma forma elétrica, nos mostrando uma perseguição de carro que culmina em um acidente. Vamos então acompanhando a vida de diferentes personagens até o fatídico momento que leva ao acidente, e como ela será alterada após esse trágico acontecimento.

No campo jurídico da mediação, existe algo chamado “espirais de conflito”, ou sejam uma teoria que basicamente postula que existe uma escalada progressiva em relações de conflito. Ao criarem um ciclo vicioso de ação e reação, os envolvidos acabam por tornar a situação ainda mais severa, pois cada ação é retribuída com uma reação de valor superior. Essencialmente, é isso que acontece na vida de Octávio: após tomar diversas decisões ruins, ele acaba gerando uma situação que acaba por ser quase fatal para ele.

Esse é o primeiro dos três trabalhos que Iñárritu realiza em conjunto com o roteirista Guillermo Arriaga. Além de Amores Brutos, a dupla também rodou 21 Gramas (2003) e Babel (2006), cujos trailers vemos abaixo. O ponto em comum entre as obras é justamente a espiral de conflito: uma situação acaba por gerar um efeito dominó na vida de quem a criou, assim como também na de outras pessoas. Em Amores Brutos e 21 Gramas, essa questão ocorre em um nível citadino, já em Babel a espiral do conflito eleva-se a um outro patamar.

Um patamar tão elevado que talvez seja mais plausível considerar que, em Babel, a real inspiração por trás da história seja a teoria do caos. Essa teoria matemática é mais conhecida como o “efeito borboleta”: até mesmo uma mudança mínima, como o bater de asas de uma borboleta, pode gerar uma catástrofe desconhecida no futuro. De toda forma, o tópico abordado acaba por ser o mesmo, o resto da nossa vida pode ser drasticamente afetado por outra pessoa, usualmente uma pessoa que nem conhecemos.

Por mais pessimista que isso possa parecer, creio que o diretor tenta transmitir um fato simples mas que parecemos esquecer: não controlamos nossas vidas, temos apenas a capacidade de tomar as decisões, mas os resultados estão além do que podemos enxergar. Entre a nossa resposta a algum fato e a conclusão dessa ocorrência, haverá muitos bateres de asas para determinar o resultado. Não sendo capaz de controlar o final, só nos resta mantermo-nos fiéis a nós mesmos, adquirir uma determinação estoica frente aos desafios da vida.

Rodrigo Maracajá: radicado em João Pessoa, é um dos autores da novíssima geração, crítico de cinema, estudante de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, desbravador da literatura e apaixonado por música e HQs.

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