Entre trabalhos no sítio da família e empregos secundários em Chicago, talvez com a esperança de cauterizar a dolorosa ferida, Hemingway decidiu se casar com Elizabeth Hadley Richardson, também alguns anos mais velha. Combinaram se estabelecer na Itália e trataram de amealhar algum dinheiro para isso. Ele considerava a vida no país natal muito monótona e provinciana, enquanto a Itália poderia oferecer tudo que um escritor possa desejar.
Tomando conhecimento dessa intenção, o escritor Sherwood Anderson, já célebre na época, aconselhou-o a mudar de rumo e se fixar em Paris. Lá, dizia ele, um escritor sério e talentoso encontraria ambiente propício para progredir e poderia se lançar no cenário internacional. Hemingway e Hadley tiveram o bom senso de aceitar a sugestão e seguiram para a Cidade Luz, levando na bagagem várias cartas de recomendação escritas por Anderson.
Instalados pobremente em Paris, pobreza que o escritor exagerou ao extremo em suas memórias, travaram conhecimento com o mundo literário francês, em especial com os americanos, exilados voluntários, numerosos na época. F. Scott Fitzgerald, Ford Madox Ford, Ezra Pound, John dos Passos, Gertrude Stein e sua companheira Alice B. Toklas, estavam entre os mais chegados. Pound e Gertrude se tornaram bons amigos, tendo esta última, repetindo as palavras de um mecânico, batizado para sempre aquele grupo como a “geração perdida.” Também James Joyce e Sylvia Beach, proprietária da livraria “Shakespeare & Company”, formavam em seu círculo.
Apesar das premências financeiras, Hemingway produziu e publicou muito, fez numerosas viagens e aprimorou seus conhecimentos literários. Admirador do pintor Cézanne, tentava fazer com as palavras aquilo que ele fazia com as tintas. Foi nesse período que afinou o instrumento do escritor – a linguagem.
Essa fase de sua vida seria, mais tarde, recordada no livro “Paris é uma festa.”
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