Ainda acho que Fernando Meirelles não recuperou o ponto alto de sua filmografia, que foi Cidade de Deus, com The Two Popes me trazendo de novo a sensação do “faltou alguma coisa”, que eu já sentira nO Ensaio Sobre a Cegueira depois de ler o romance do Saramago. Ainda acho que Anthony Hopkins não “recebe o espírito” dos personagens que interpreta – difícil vê-lo como outra pessoa que não ele mesmo, qualquer que seja o filme de que participe. Ainda acho que romancear, teatralizar ou filmar seja o que for da realidade recente, soa sempre falso – como o próprio Hopkins fazendo Nixon e Picasso há não muito tempo atrás.

Eu me sentiria mais à vontade se tivesse assistido a um documentário sobre a origem desse insólito período com dois pontífices que vivemos. E, se VER Hopkins e Jonathan Pryce COMO SE FOSSEM Ratzinger e Bergoglio me incomodou, pior foi ver o Papa Francisco no passado, de repente aparecendo numa série de flashbacks.

Lembro-me de igual mal-estar que senti ao ver – na minissérie que a Globo produziu algum tempo atrás sobre Juscelino – o salto no tempo, com o Wagner Moura sendo, de súbito José Wilker. Não consegui, nesses dois casos, a famosa “suspensão da descrença” (a clássica “suspension of disbelief”).

Pior é ler, depois, alguns críticos analisando Dois Papas e dizendo que nada “foi bem daquele jeito”, quanto à colaboração do personagem à ditadura de Videla, na Argentina, por exemplo. O que fica é o registro de uma Igreja em crise, descoberta como império em meio a um mundo que parece confirmar que “os pobres sempre os tereis convosco”, mas nada conformados com isso.

W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.

E-mail: waldemarsolha@gmail.com