– A destruição de Hiroshima e Nagasaqui foi resultado de uma infeliz expressão de duplo sentido utilizada pelo Primeiro-Ministro do Japão, em 45, com a qual teria pretendido dizer que consideraria o ultimato dos Aliados de rendição, mas que foi traduzida para o inglês como “Nem vou levar tal coisa em consideração”.

– “Statu quo”, sem o s final, é a expressão correta. É parte de “in statu quo ante”, que significa “no estado em que estava antes”.

– O plural gols é legítimo, porque continua sendo a palavra inglesa ( goal ) adaptada graficamente.

– Quando os cronistas esportivos adaptaram a palavra inglesa “scratch” para o português, escrevendo “escrete”, garantiram a pronúncia original apenas na área dialetal carioca, “iscrétch”. No Sul, o t soa dental, como na palavra “ter”.

– Todos os minidicionários (do Houaiss, do Aurélio, de Evanildo Bechara) cometem o mesmo erro na segmentação da palavra parapsicologia: pa-ra-psi… Ora, não existe hífen em parapsicologia. Portanto a separação silábica tem de ser pa-rap-si… ( conforme si-lep-se: lap-so; co-lap-so, rap-só-dia).

– A letra do Hino Nacional tem algumas sínquises ( ou hipérbatos viciosos) que perturbam o falante pouco atento à ordem truncada. (…) A inversão mais notável da letra barroca de Osório Duque Estrada está num dos versos finais da primeira parte: “E o teu futuro espelha essa grandeza”. Como o futuro ainda não existe, o sujeito de “espelha” é “essa grandeza”. O sentido do verso é que a grandeza do País espelha o seu futuro, isto é, a grandeza do País será refletida no seu futuro.

– A pronúncia do nome Caesar, do primeiro imperador romano, é Káizar ( que deu Kaiser em alemão e Czar em russo). Mas o brasileiro pronuncia César, o francês pronuncia Cezár, o italiano pronuncia Tchézar. (…) Regina Coeli deveria pronunciar-se Reguina koéli, e não Redgina Tchéli.

– A palavra semana se origina de “septímana”, literalmente: sete manhãs.

– O pronome “ele” pode ser elocutivo, referir-se à pessoa que fala. Batem à porta com insistência, e a dona de casa, correndo para atender, grita a quem bate, para acalmá-lo: “Já vai, já vai!” Esse “já vai” significa “Já vou”.

Veja que coisa:

– Os gêmeos Rômulo e Remo teriam sido expostos num cesto, no rio Tibre, pra que morressem afogados. Conta a lenda que uma loba os resgatou e os levou para uma gruta, onde os amamentou, até que fossem encontrados pelo pastor Fáustulo, que lhes deu guarida. (…) A verdade, porém, é que mulher de Fáustulo teria sido uma cortesã de nome Aca Laurência ou Laurentina. Ela é que os teria amamentado. O termo latino que designava as cortesãs era lupa. (…) A lenda substituiu a loba-prostituta pela loba-animal (…). Mas restou o termo lupanar, designativo de prostíbulo, para mostrar que foi a lupa-mulher, a lupa-prostituta, e não a fêmea do lobo, a base mitológico-histórica da grande civilização.

Já basta. O livro de que falo é CRÔNICAS LINGUÍSTICAS, de JOSÉ AUGUSTO CARVALHO. Desse autor mineiro radicado em Vitória do Espírito Santo, eu já havia devorado, PROBLEMAS E CURIOSIDADES DA LINGUA PORTUGUESA, publicado pela Thesaurus. Veja no Google o currículo do mestre. É da pesada.

W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.

E-mail: waldemarsolha@gmail.com