Quando pesquisava a respeito da luta contra os holandeses, aqui no Nordeste, para que meu protagonista criasse o roteiro de um filme chamado BATALHA DE GUARARAPES, em meu romance A BATALHA DE OLIVEIROS (Prêmio INL 1988, publicado pela Itatiaia no ano seguinte), uma novidade nacional me impressionou: a Guerra Brasílica, que hoje se chamaria guerrilha – adaptada do sistema de luta indígena, com ataques de surpresa, pontuais, fulminantes, no inimigo enorme, seguidos de imediatos sumiços na mata, graças ao conhecimento absoluto do terreno. A Holanda tinha, na época, o maior exército do mundo, algo como o americano do pós-guerra, destroçado no Vietnã. Veja como descrevo nossas “tropas”:

“- Eu me volto. Debaixo da folhagem que enrosco no elmo, para camuflá-lo, por sobre o dorso do meu cavalo, meu rosto se torce num meio sorriso de comiseração e ternura: a negadinha brasileira, toda enlameada e folhuda, os olhos pirilampos, de prontidão. Corro a vista pelos rostos, caras, faces, fuças, carantonhas, carrancas e caricaturas, centenas de carinhas erguidas atentas acolá nas brenhas, caboclos velhos, um deles com uma pena preta de ponta longa atravessada no septo nasal. Vejo pedreiros, ferreiros, ex-escravos, carpinteiros, oleiros, oficiais de fôrmas e sinos para açúcares, mestres de engenho – até um gramático! – todo o meu povo brasileiro com poucas libréas – mombachas e almilhas rotas e safadas de tanto trabalho de guerrilha e de jornadas, quase todos os de lá de trás armados só com paus tostados à guisa de chuços, espadas sem bainhas – suas pontas protegidas por sabugos de milho, as poucas armas de fogo (minha Nossa!): espingardas e arcabuzes com balas feitas de chumbadas de rede de pescar e de vasos de estanho!”

W. J. Solha: romancista, poeta e ensaísta paulista radicado na Paraíba, é também dramaturgo, ator, artista plástico e publicitário, com vários livros publicados e premiados, transitando em várias frentes de nossa cultura; um artista "multimídia" por excelência.

E-mail: waldemarsolha@gmail.com