O mundo dava suas voltas e teve início a Guerra Civil Espanhola. Já escritor consagrado, embora alheio à política e às ideologias, Hemingway intuiu que aquela guerra constituía um teste para a conflagração mundial que viria em seguida. Desde o início, porém, manifestou seu repúdio pelo fascismo e considerou Mussolini a maior farsa da política européia. Inconformado com a intervenção da Alemanha e da Itália nos assuntos internos da Espanha, país pelo qual nutria profunda afeição, não tardou a se credenciar como correspondente de guerra e para lá se dirigiu.

Permaneceu por muito tempo em Madri, cercada pelas tropas rebeldes e resistindo como podia, hospedado no Hotel Florida, por ele celebrizado em sua obra. Enquanto a metralha rugia lá fora e as granadas explodiam nas proximidades, escreveu incontáveis reportagens para jornais e revistas e a peça de teatro “A quinta coluna”, única a sair de sua pena e que, segundo consta, jamais foi montada. (Contrariando essa informação, Baker sustenta que a peça foi encenada na Broadway).

Acompanhado por Martha Gelhorn, sua mulher naquele momento, e por outros correspondentes, visitava o front, aproximando-se tanto quanto possível do próprio campo de batalha, visitando as linhas de combate, os acampamentos, os quartéis e todos os locais onde houvesse ação. Conheceu inúmeras pessoas de todo o mundo e seu apartamento no hotel estava em permanente ebulição.

Não satisfeito, participou da realização de um filme de propaganda da causa legalista (“A terra espanhola”), viajou aos Estados Unidos para angariar fundos destinados à compra de ambulâncias e até discursou para numerosas pessoas, ele que detestava falar em público.

Lamentava a destruição das cidades históricas do país e, acima de tudo, a terrível mortandade de não-combatentes, incluindo mulheres, velhos e crianças. E sentia imensa tristeza ao perceber o declínio das touradas, atividade pela qual tinha verdadeiro fascínio, conhecia a fundo e muito escreveu a respeito.

A sangrenta Guerra Civil mais o uniu ainda à Espanha. E para sempre.

Enéas Athanázio: escritor e jurista catarinense, uma das maiores autoridades do país sobre cultura indígena, colunista da revista Blumenau em Cadernos e do jornal Página 3, é autor de mais de cinquenta livros, entre eles Meu chão, O perto e o longe e O pó da estrada.

E-mail: e.atha@terra.com.br