No mundo em que vivemos são muitos os perigos que circundam a rede mundial de computadores, dentre eles está um que parece ser ignorado pela maioria. A exposição pessoal parece ser quase uma regra da internet: é imperativo postar fotos das férias, de pessoas amadas, familiares, amigos, exibir as conquistas, fazer check-in ao chegar em algum lugar. Além de muitas vezes as pessoas viverem apenas uma vida de aparências, em cada uma dessas ações há um perigo latente que é o de não saber quem nos observa, já que predominantemente as pessoas não privam suas contas.

É justamente explorando essas questões anteriormente mencionadas que o diretor indo-americano Aneesh Chaganty faz sua estréia com o drama e mistério Buscando… (Searching/2018). Após sua filha de 16 anos desaparecer, seu pai (John Cho) tenta acessar o computador dela para buscar pistas desse sumiço. Apesar de ter um roteiro bem comum, o longa se destaca pela forma como é contado. Toda cena é apresentada a partir do ponto de vista de algum aparelho eletrônico presente no local, seja uma câmera de vigilância, uma transmissão de alguma emissora de TV, ou até mesmo pela câmera do computador.

Além de ser uma forma inovadora de contar uma história que já é recorrente no gênero, isso nos ajuda a perceber como estamos cercados por aparelhos eletrônicos. Essa superconexão parece ter nos descolado da realidade, ou a substituído pela realidade virtual. As redes sociais caminham não apenas para ser uma extensão da sociedade, mas para substituí-la. Muitos já vivem sua vida real em prol de sua vida virtual, seja isso por vontade ou meramente como um refúgio aos muitos problemas enfrentados na vida real. De toda forma, isso é apenas uma etapa de um processo que já vêm ocorrendo há um certo tempo.

Todo ano, o dicionário inglês Oxford elege a sua palavra do ano. Se em 2013, para a surpresa de muitos, a palavra escolhida foi “selfie”, que na época havia sido utilizada 17.000% mais vezes desde 2012, em 2016 essa escolha foi ainda mais virtual: a palavra do ano foi o “emoji” que chora de rir. Para Steven Pinker, as palavras “não são apenas fatos sobre o mundo armazenados na cabeça de uma pessoa, mas estão entrelaçadas no tecido causal do próprio mundo”. A escolha dessas palavras por Oxford é apenas uma demonstração da nossa devoção ao mundo virtual.

Após perder a mãe, Margot – a menina desaparecida, interpretada por Michelle La – acaba encontrando na internet um refúgio durante esse momento difícil. Com o passar dos anos, ela acaba se afastando de seu pai, que ao começar a investigar sobre a vida online de sua filha, percebe que não conhece mais nada sobre ela. Com isso, ele acaba tendo que investigar cada pista e suspeitar de todos ao seu redor. Em uma das cenas mais tensas do longa, o protagonista confronta o seu irmão sobre mensagens suspeitas que ele havia trocado com sua filha, o que reforça a ideia de que muitas vezes a vida virtual e a real daqueles que nos cercam podem ser bem distintas.

Buscando… é um ótimo suspense que vai lhe deixar com os nervos à flor da pele até a última cena. Os temas explorados são muito bem trabalhados, tornando-os ainda mais factuais a realidade de qualquer telespectador do filme. Após terminá-lo, tenho certeza que você irá pensar duas vezes antes de compartilhar algo em sua rede social…

Rodrigo Maracajá: radicado em João Pessoa, é um dos autores da novíssima geração, crítico de cinema, estudante de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, desbravador da literatura e apaixonado por música e HQs.

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