Conjuga as flores e salta de onde estás. Restarás como a folha asfixiada na cor escorreita do fluxo outonal, na dormência aparente do tempo. A morte inclinada para uma aliança que virá em breve. Outra e outra vez, nos mistérios das estações. Perséfone.

As mulheres, dilatadas em suas inimagináveis variações, guardam dentro de si a matéria que, inevitavelmente, repassarão à existência que biografará suas relações com toda a humanidade – como quem estuda as descobertas pela observação conjunta e o permanente questionamento que se depara com a instrumentação espiritual e corpórea, com a disciplina de evanescer a ignorância e reduzi-la. Sobre que extensão se encontra o que perpassa a intrincada floresta dos sentimentos femininos? Há que perscrutar, na aparência e na profunda submersão, razões que as expliquem ao além limite das críticas pecaminosas.

Olhar demoradamente para as portas que não se tornam descendências, para o avesso das sombras onde as mulheres salvam suas intermináveis histórias, como se diagramas de páginas sagradas, inclusos os ornamentos com que brincam suas crianças, quando elas assumem carregá-las com o zelo dos anjos invencíveis feito mergulhos e voos culminados num mesmo encontro. Ser mãe é esquecer-se dos lenços. Sequer aparar as lágrimas. Mulheres provadas e provedoras ademais de todas as tiranias, das tácitas renúncias por tolos reinados e todos os apócrifos grifos, pseudoparaísos e fidalguias, bravuras apagadas nos acontecimentos sucessivos, desvendados e amplificados nas execráveis adjetivações que as vitimam para subjugá-las. Que harpas e harpias elas necessitam tornar-se, que fenecimento se oculta em cada revelado salto rumo às encostas abissais, às cercanias inusitadas, sem pasmo algum.

Nada do que se percebe é simples. Que felicidade, que riqueza é estender-se como sobrevivência, apesar de todos os pesos; a consciência é a fonte engenhosa da inesgotável generosidade que possuem de amar com o que é tangível, serem extremadas, verdadeiras e dignas sem almejar posteridade, pois conhecem a brevíssima memória do que são e representam. Dessas múltiplas guerreiras, nunca se saberá o quanto se fizeram boas e belas, o quanto foram treinadas para se livrarem de toda má didática e permanecerem ferozmente vivas e férteis, por amarem à grande mãe Terra como extensão de suas próprias almas.

(Este é um dos textos do livro “Destinos Desdobrados”, São Paulo, Ed. Penalux, 2021)

Tere Tavares: escritora e artista visual, residente em Cascavel, PR, autora dos livros Flor Essência (2004), Meus Outros (2007), Entre as Águas (2011), A linguagem dos Pássaros (Ed Patuá 2014), Vozes & Recortes (Ed Penalux 2015), A licitude dos olhos (Ed Penalux 2016), Na ternura das horas (Ed. Assoeste 2017) Campos errantes (Ed. Penalux 2018), Folhas dos dias (Selo Ser MulherArte Editorial, 2020), Destinos desdobrados (Ed. Penalux, 2021) e Diário dos inícios ( Metanoia Editora, Selo Mundo Contemporâneo Edições, 2021) . Conta com publicações em antologias, jornais e sites literários nacionais e internacionais. Integra a Academia Cascavelense de Letras. Blog: http://m-eusoutros.blogspot.com/ Facebook: https://www.facebook.com/tere.tavares.1

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